ter mar 19, 2024
terça-feira, março 19, 2024

9 anos após o desaparecimento de Carolina Garzón

Em 28 de abril de 2012, na cidade de Quito, Equador, nossa camarada Carolina Garzón desapareceu. Naquele momento tinha apenas 22 anos, este ano tem 31. Passaram-se nove longos anos em que nem a sua família, nem os seus companheiros do PST, nem os seus amigos, pudessem lhe dar um abraço ou cantar os parabéns.

Por: Comitê Executivo e Comissão da Mulher do PST – Colômbia

Nove longos anos de luta incansável de sua família, de nosso partido, da Liga Internacional dos Trabalhadores, do Movimento ao Socialismo – MAS do Equador (parte da Articulação Revolucionária dos Trabalhadores) e de seus amigos para encontrá-la. E de exigência aos estados do Equador e da Colômbia para que investiguem seu desaparecimento forçado, que a encontrem ou que possamos descobrir a verdade sobre seu destino.

Até o momento, não temos uma resposta precisa dos estados ou de suas instituições, apesar do número de manifestações, protestos, cartas e denúncias. Carolina como muitos e muitas desaparecidas tornou-se mais uma cifra nas estatísticas oficiais, óbvio, ela é filha de um operário e uma persistente guerreira da vida, nascida no seio da classe trabalhadora. Ela não é filha de empresários, banqueiros ou políticos corruptos, porque quando se trata dos filhos da burguesia, a justiça, as instituições, a mídia e todos os recursos do Estado se movem rapidamente para encontrá-los sãos e salvos.

Desaparecimento forçado, um crime hediondo….

Um estudo da Pontifícia Universidade Católica do Equador, Associação de Parentes e Amigos de Pessoas desaparecidas em Equador (ASFADEC) e outras organizações de direitos humanos realizado no final de 2018, afirma que no Equador:

“Do universo dos desaparecimentos, 67% correspondem a mulheres. Além disso, este relatório mostra que a idade com maior probabilidade de ser vítima de desaparecimento é de 12 a 17 anos, faixa em que estão registrados 24.992 pessoas desaparecidas; seguida da faixa de 18 a 29 anos com 8.659 e de 30 a 55 anos com 4.668. Da mesma forma, cabe esclarecer que o Ministério Público em seu relatório afirmou não conhecer a idade de 143 pessoas do universo de denúncias”.

Nesse mesmo ano, o Ministério Público informa uma média de 10.000 reclamações de pessoas desaparecidas por ano de 2014 a 2017, e tudo parece indicar que os números aumentaram nos últimos anos de acordo com denúncias da ASFADEC. Esta Associação foi fundada justamente por Walter Garzón, pai de Carolina e dirigente do PST, que uma vez desaparecido nossa companheira viajou ao Equador para procurá-la, contatando imediatamente os pais de outros desaparecidos que o acompanharam nesta tarefa de organizar a luta e a Associação que, devido às atividades de denúncia e mobilização, alcançou o reconhecimento da população e do próprio governo como forte interlocutor.

Na Colômbia a situação não é melhor “No país, pelo menos 80.000 pessoas foram vítimas de desaparecimento forçado. Essa forma de violência é capaz de produzir terror, causando sofrimento prolongado, alterando a vida de famílias por gerações e paralisando comunidades e sociedades inteiras”.

É o que afirma o relatório do Centro Nacional de Memória Histórica de 2018, apontando como perpetradores os paramilitares com 46%, as guerrilhas com 19% e os agentes do Estado com outros 8%. Segundo denúncias de um alto ex-militar, na Colômbia os chamados falsos positivos, uma forma de desaparecimento forçado com objetivo claro de assassinato, era de cerca de 10.000 pessoas.

Porém o desaparecimento forçado não está relacionado apenas a conflitos político-militares, mas também às máfias do tráfico de drogas, armas e prostituição. Isso indica que o capitalismo é uma máquina de produção de violência das mais variadas naturezas, cujo objetivo é servir de instrumento para o exercício do poder e obtenção de benefícios econômicos.

Recentemente, é comum nas redes sociais encontrar dezenas de imagens de mulheres desaparecidas, em Cartagena desde 19 de março, parentes e vizinhos procuram Alexandrith, uma jovem afrodescendente de 15 anos. Graças à pressão de organizações sociais e de mulheres, as autoridades começaram tardiamente sua busca.

Apesar do fato de que o direito internacional teve que reconhecer o desaparecimento forçado como um crime contra a humanidade, os governos e suas instituições estatais e de justiça pouco fazem para eliminá-lo. A grande maioria dos casos permanece em total impunidade.

… E um drama humano

Por trás dessas estatísticas, de cada uma delas, existe um drama humano, famílias e organizações que sofrem e lutam. A família de Carolina não teve apenas que viver sua ausência e a incerteza de seu destino. Perdeu definitivamente Walter Garzón, que morreu em 12 de setembro de 2016 após 4 anos de busca incansável por sua filha e camarada. Sua vida se consumiu no desespero dos dias sem encontrar Carolina e sem encontrar resposta e ação efetiva por parte daqueles que têm a responsabilidade principal de esclarecer os fatos: o Estado e o governo equatoriano em comum com o Estado e o governo colombiano. Sua mãe Alix Mery e sua irmã Lina, sua tia Flor, seus primos, sua família não param de lutar para encontrar Carolina e descobrir a verdade. Cada dia sem Carolina se traduz simbolicamente em mais um risco, assim como o prisioneiro que risca na parede, esperando o dia de sua liberdade. E esse drama também é vivido por sua outra família, a família política: o PST. As ilusões e projetos políticos, sociais e culturais de Carolina foram truncados com seu desaparecimento. A Unidade Estudantil – UNES, projeto de organização juvenil que Carolina iniciou, após a gigantesca luta de 2011, que derrotou a Lei 30, ficou sem rumo e perdemos definitivamente nosso companheiro e dirigente Walter Garzón, que foi um exemplo da luta pelo fortalecimento da organização sindical e a política de sua classe, a classe operária. Sentimos falta de ambos, sentimos sua ausência e o vazio de suas contribuições.

Se lutarmos como irmãos …

Não vamos desistir não vamos nos calar, junto com sua família e amigos continuaremos lutando para encontrá-la ou para descobrir a verdade e para que a justiça seja feita. Continuaremos a pressionar para que a Corte Interamericana de Direitos Humanos responda e force os Estados da Colômbia e do Equador a responder a denúncia judicial pelo desaparecimento de Carolina, movida em 8 de janeiro de 2020. Em meio à pandemia, retomaremos a luta.

Confira nossos outros conteúdos

Artigos mais populares