sáb abr 13, 2024
sábado, abril 13, 2024

Costa Rica: Diante do aumento do custo de vida, uma saída para a classe trabalhadora

É cada vez mais difícil para o povo trabalhador chegar ao fim do mês. Estamos vivendo aumento de preços como não víamos desde 2008, com a diferença de que naquela época o nível de desemprego era a metade do que temos agora. 

Por: PT-Costa Rica

Durante as crises são os trabalhadores que pagam

A pandemia acelerou uma crise no país que já vinha sendo gestada, e disseram o de sempre, que há que “apertar o cinto” e isso significa que são os trabalhadores que pagam pela crise. Vimos como durante a pandemia reduziram a jornada, suspenderam os contratos e muitos patrões se aproveitaram disso para evitar pagar as indenizações aos trabalhadores.

O desemprego disparou e a juventude e as mulheres foram as que levaram a pior parte, com índices de desemprego superiores a 30%. A mesma história viveu toda a classe trabalhadora do mundo.

Entretanto, a história não foi igual para todos, os ricos ficaram mais ricos durante a pandemia. De fato, os dez homens mais ricos do mundo duplicaram sua fortuna.  A Costa Rica não foi exceção, de acordo com o Informe do Estado da Nação, a Costa Rica que já era parte da lista dos países mais desiguais do mundo, durante a pandemia, viu essa desigualdade aumentar. O que não significa outra coisa a não ser que os ricos ficaram mais ricos e os pobres mais pobres.

Durante o crescimento econômico os ricos também ficam mais ricos

Alguém poderia pensar que isso é o que ocorre nas crises, que a classe trabalhadora é a que mais sofre, mas que quando a economia “levanta”, os trabalhadores são beneficiados. Mas isto é falso, durante os períodos de recuperação econômica, os grandes empresários e banqueiros levam a melhor. Durante 2021, a economia do país se recuperou bastante, o produto interno bruto (a quantidade de riqueza produzida no país) cresceu 7.6%, o que significa que os lucros dos grandes empresários cresceram, porque, como vimos anteriormente, são eles os que levam a maior parte da riqueza produzida.

Enquanto a economia cresceu 7.6%, os salários mínimos da classe trabalhadora cresceram apenas 2.09%. Alguém um pouco distraído poderia pensar que pelo menos os salários aumentaram um pouco, mas antes de qualquer coisa, é importante lembrar que esse aumento foi só para os salários mínimos, quem ganhava um pouco mais que o salário mínimo, com certeza não viu nenhum aumento. Além disso, a inflação (o aumento do preço geral das coisas) foi de 3.3%, o que significa que o aumento do salário não serviu nem sequer para compensar o aumento dos preços de 2021. Ou seja, aqueles que realmente receberam o aumento do salário mínimo viram seu poder aquisitivo (sua capacidade de pagar as contas) reduzida em 1.21%, e aqueles que não tiveram aumento, seria como se tivessem reduzido o salário em 3.3%.

Assim é como o capitalismo funciona, durante as crises as e os trabalhadores pagam, especialmente as mulheres, e durante as recuperações, os capitalistas, os grandes empresários são os que ficam mais ricos.

A inflação continua subindo

Mas o problema não parou em 2021, pelo contrário, continua aumentando. A gasolina subiu de preço incrivelmente neste ano. Encher um tanque de 30 litros com gasolina comum em junho custará praticamente o dobro do que custava no início do ano passado.

Mas não apenas a gasolina subiu de preço, tudo em geral está mais caro. O Índice de Preços ao Consumidor (IPC), que mede a variação dos preços de 289 artigos, aumentou significativamente durante este ano. Todos nós sentimos isso, cada vez que vamos fazer uma compra diária, compramos menos. Isso porque a inflação de janeiro do ano passado a abril deste ano aumentou 7.2%. Como dizíamos antes, é como se desde janeiro do ano passado até agora tivessem reduzido nosso salário em 7.2%. O Banco Central tinha uma meta de inflação para 2022 de 3%, mas isto já ficou na história, nos primeiros 5 meses do ano a inflação superou a meta, e espera-se que continue subindo.

Nós trabalhadores e trabalhadoras não podemos ficar de braços cruzados, vendo como vivemos cada vez pior. Precisamos nos organizar para lutar, mas para isso precisamos de um programa de luta, ou seja, precisamos definir quais são nossas principais reivindicações e nos organizar para lutar por elas.

Propostas para enfrentar o aumento do custo de vida

Do Partido dos Trabalhadores queremos propor às organizações sindicais e sociais e à classe trabalhadora em geral, cinco reivindicações que acreditamos que são essenciais para poder enfrentar o aumento do custo de vida.

– Eliminação do imposto único de combustíveis, suspensão do pagamento e auditoria da dívida pública

O imposto único de combustíveis é o culpado pela gasolina ser tão cara na Costa Rica. Este é um imposto regressivo, porque aqueles que têm menos são os que mais pagam neste imposto.

Os liberais arrancam os cabelos dizendo que a culpada do preço dos combustíveis é a RECOPE (Refinaria Costarriquense de Petróleo), e chamam pela sua privatização, mas isso é uma mentira completa.

Quando propusermos eliminar o imposto sobre os combustíveis, muitos nos chamarão de irresponsáveis e dirão que as finanças do Estado não aguentariam tal coisa. Para discutir isto vamos aos dados: nos primeiros dois meses deste ano o imposto sobre os combustíveis teve uma cifra recorde de arrecadação de 112 bilhões de colones, Entretanto, devemos lembrar que este dinheiro é destinado à corrupta concessão de obra pública que só o caso “cochinilla”[1] custou ao estado 78 bilhões de colones.

Mas, o que realmente sufoca as finanças do estado é a dívida pública, nesses mesmos dois meses, o estado pagou um bilhão de colones em dívida pública. Ou seja, foi paga uma dívida pública 9 vezes mais do que foi arrecadado com este imposto. Por isto, o Partido dos Trabalhadores vem dizendo que é preciso suspender o pagamento da dívida pública e realizar uma auditoria.

– Aumento emergencial de 13% nos salários

Somente entre abril de 2020 e abril de 2022, o Índice de Preços ao Consumidor subiu 8.4% e estudos da Universidade da Costa Rica assinalam que para 2021 em geral o poder aquisitivo foi reduzido em média 13% onde as mulheres e as pessoas das zonas rurais e litorâneas são as mais atingidas. A isso devemos somar o aumento nos preços que dispararam nos últimos meses.

É por isso que precisamos de um aumento emergencial de 13% em todos os salários para compensar essa perda do poder aquisitivo.

– Aumento mensal de acordo com a inflação de todos os salários iguais ou inferiores aos de um professor do ensino médio

Todo ano aumentam os salários, mas só aumentam (e muito pouco) os salários mínimos e aqueles que ganham um pouco mais que os salários mínimos não veem nenhum aumento. Além disso, como vimos anteriormente, estes aumentos não compensam o aumento no custo de vida.

A inflação está crescendo mês a mês, e as contas da classe trabalhadora não podem esperar um ano por um aumento que não vai compensar. É por isso que precisamos que todos os salários daqueles que ganham igual, ou menos, que um professor do ensino médio subam todo mês de acordo com a inflação do mês anterior, só assim poderemos enfrentar o galopante aumento no custo de vida.

– Controle de preços da cesta básica de alimentos

Na Costa Rica existe uma cesta básica de alimentos, mas a maioria dos preços desta cesta não são controlados pelo estado, estão livres para serem determinados pela “mão invisível do mercado”, ou seja, estes preços são fixados pelos grandes empresários para garantir seus lucros.

Não é possível que os grandes capitalistas fiquem cada vez mais ricos enquanto a classe trabalhadora come cada vez pior. Precisamos que todos os preços da cesta básica de alimentos sejam controlados, só assim poderemos enfrentar o aumento no custo de vida. Estes preços, além do mais, não podem ser fixados pela ARESEP (Autoridade Reguladora dos Serviços Públicos), que nada sabe sobre como a classe trabalhadora vive. Devemos ser nós os próprios trabalhadores, através de nossas organizações como os sindicatos e as organizações de bairro, os que determinem a fixação destes preços, para que sejam preços que possamos realmente pagar.

– Ampliação da cesta básica de alimentos

Por outro lado, a cesta básica de alimentos não está baseada na verdadeira necessidade das famílias da classe trabalhadora. Por isto precisamos ampliar a lista destes produtos que devem estar na cesta básica, e que sejam definidos pelas próprias organizações dos trabalhadores, os sindicatos tanto do setor público como do setor privado, e pelas organizações dos bairros.

[1] O caso Cochinilla refere-se a um escândalo de corrupção política na Costa Rica revelado em 14 de junho de 2021, onde é questionada uma rede de crime organizado destinada a favorecer empresas privadas específicas em licitações para a construção, reabilitação e manutenção da rede rodoviária costarriquenha em troca de subornos e favores para funcionários públicos. Informação obtida em: https://es.wikipedia.org/wiki/Caso_Cochinilla

Tradução: Lilian Enck

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