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sexta-feira, março 29, 2024

Chamar para mudar tudo sem mudar nada: as propostas do Partido Comunista e da Frente Ampla

Em meio à campanha para conseguir uma cadeira na Convenção Constitucional, os diferentes partidos políticos aparecem nas feiras, comunidades, fóruns e debates anunciando grandes promessas de mudança dentro do país. Partidos como a Frente Ampla ou o Partido Comunista chamam a construir um Estado de Bem Estar Social que “derrube” as instituições neoliberais e que possa fundar um novo tipo de democracia. Além de difundir promessas sobre recuperar a saúde digna para as pessoas, melhores aposentadorias, moradias e trabalho digno. Mas, as promessas ficam no ar quando não se tem uma proposta concreta e real para financiá-las e é aí onde queremos debater de forma saudável a sua proposta.

Por: MIT Chile

O Chile pode se transformar em Suécia? A impossibilidade do Estado de Bem Estar Social

Uma das propostas que mais ouvimos dos partidos tradicionais de esquerda é a necessidade de transformar o Chile em um Estado de Bem Estar Social que garanta as necessidades básicas da população. O exemplo que geralmente dão é o da Suécia ou dos países nórdicos como faz Daniel Stingo e outros.

Entretanto, as mudanças reais não são realizadas só com o desejo; o financiamento da saúde, da educação ou da moradia tem que sair de um lugar concreto e aí está um dos principais problemas da proposta do Estado de Bem Estar Social: buscam garantir os direitos da população sem tocar nos lucros dos grandes grupos econômicos e das 10 famílias mais ricas. A Suécia, Suíça, Finlândia e todos os demais países nórdicos são capazes de financiar todos os direitos porque suas empresas e seus bancos extraem as riquezas de todos os países do terceiro mundo ou subdesenvolvidos. A mineradora sueca Glencore, por exemplo, é uma das que extraem nosso cobre e ficam com suculentas riquezas de nosso recurso.

É possível um Estado de Bem Estar Social sem romper com o imperialismo?

Diferente dos países nórdicos, o Chile tem a característica econômica de ser um país exportador primário, isso significa que extraímos nossos recursos naturais e os vendemos com um mínimo de valor agregado, beneficiando diretamente as grandes potências. E é dessa forma porque existe uma ordem econômica internacional que submete os países do terceiro mundo a uma posição econômica de subordinação às grandes potências; seja através da dívida externa, dos Tratados de Livre Comércio (TLC’s) e/ou das ocupações econômico-militares.

E para poder construir um Estado de Bem Estar Social é preciso reverter essas imposições, mas o grande empresariado nacional não quer, porque consegue lucros suculentos nesta posição de subordinação na qual se encontra o país. Então, por acaso acreditamos que será possível que o empresariado ceda em seus privilégios? Nós acreditamos que não, e por isso dizemos que a única forma de avançar em um Estado que realmente possa aplicar políticas econômicas em benefício do povo é se a classe trabalhadora tomar o poder e romper com o capitalismo.

A necessidade de romper com o capitalismo e recuperar o que foi saqueado

Então, ficamos com uma grande incógnita: por acaso os empresários apoiarão um Estado de Bem Estar Social? E se não apoiam? Como poderão financiar as medidas necessárias se a riqueza continua em algumas poucas mãos?

O PC, por exemplo, defende um imposto sobre as grandes fortunas de 2.5%, mas isto não é suficiente e abre um problema adicional: os multimilionários podem tirar seu dinheiro do país e garantir para si próprios. Por isso, deve-se avançar em expropriar e romper com os capitalistas para que não levem o dinheiro que deveria ser do povo. Enquanto que as principais empresas ou mineradoras do país estiverem sob a administração de um punhado de empresários, nunca poderemos avançar em mudar o modelo econômico do país e garantir as demandas da população.

É preciso uma proposta concreta

Para A Voz dos Trabalhadores e o Movimento Internacional de Trabalhadores é uma necessidade avançar em um agressivo plano econômico e social que rompa com o domínio dos multimilionários na economia do país. Nesse sentido, a aposta do PC sobre a “ruptura democrática”, de mudar o sistema a partir de dentro, fica impotente se não apontar para o controle da produção por parte do povo; e se não avançar na auto-organização das e dos trabalhadores para que sejamos nós que administremos as riquezas do país.

Tradução: Lilian Enck

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