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sexta-feira, março 29, 2024

Peru| Podemos esperar algo das eleições?

Uma pergunta e uma reflexão necessária ante a aproximação de um novo processo onde voltaram a nos encher de propaganda e com o inevitável: “vota em mim que te ofereço…”.

Por: Víctor Montes
Para os partidos e agrupações que se dizem “de esquerda”, a resposta a esta pergunta é claramente afirmativa. Todos eles, desde o Partido Comunista e Pátria Roja, até o Novo Peru, a Frente Ampla e as organizações que os integram, tem feito das eleições sua atividade privilegiada.
Para nós, a resposta é exatamente o contrário. Por isso queremos abordar este debate com a chamada “esquerda”, atendendo os dois níveis que se deve responder essa pergunta: o primeiro, a utilidade da participação eleitoral para encontrar uma saída aos problemas urgentes da luta da classe trabalhadora. O segundo, se as eleições são uma via para impor soluções de fundo em relação a desigualdade da sociedade capitalista.
Votar ou lutar?
Obviamente o problema não é querer concorrer. As organizações “de esquerda” têm o direito de fazer isso se quiserem. Isso nunca negamos.
O que se torna um crime é, justamente, que procurem desviar a atenção e ação da classe trabalhadora para uma carreira eleitoral, justo quando todas as forças deveriam estar concentradas em impulsionar a mobilização geral dos batalhões da classe operária e do povo pobre para uma luta direta, nas ruas, fábricas e minas do país, contra a política assassina que aplica o governo, e os ataques que vem fazendo o empresariado.
E este crime é maior ainda, quando essa “esquerda”  procuram fazer os principais dirigentes do movimento operário e popular, a seguir esse mesmo caminho, tirando-os de suas lutas concretas, e retirando suas combatividades, com a única finalidade de ganhar votos.
Mas a classe trabalhadora não pode esperar até abril de 2021 para resolver os problemas urgentes que tem. Os contágios, mortes e demissões se multiplicaram enquanto esperamos que nos chamem novamente para as urnas.
Finalmente, os trabalhadores e trabalhadoras já passaram pela experiência das eleições. Foram enganados uma vez atrás da outra, inclusive por esses mesmos candidatos e candidatas que essas mesmas organizações “de esquerda” encobrem como “candidatos dos trabalhadores”, somente para fazer, a partir do governo, exatamente o contrário. O caso mais nítido foi o de Ollanta Humala.
Uma democracia podre
E o problema de fundo é a própria democracia patronal na que se disputam as eleições, onde são as empresas as que mandam nas autoridades.
Esta afirmação ficou mais que estabelecida graças aos escândalos de corrupção ligado a Odebrechet. Vimos milhões de dólares passar de mão em mão de presidentes, ministros e candidatos/as – “de esquerda” e de direita – para garantir os lucros dos patrões.
É nessa democracia decomposta, onde tudo se compra e todos se vendem, que a “esquerda” nos pede que confiemos.
Abandonaram a luta pelo poder
Porém, isso também não é um acaso. A esquerda faz muito tempo que abraçou o projeto da democracia dos patrões, porque as organizações que a compõem renunciaram a luta pelo poder por parte da classe trabalhadora, através da luta direta. Isso é, através da greve geral.
Para essa esquerda essa ideia “ficou no passado”. Hoje seguem os passos do Juntas Podemos, no Estado Espanhol, Syriza na Grécia, o PT brasileiro e o Bloco de Esquerda em Portugal, que administram – ou já administraram – o Estado desses países aplicando o mesmo plano de cortes de direitos que aqui procuram impor Humala, Gárcia e Toledo. Plano que hoje aplica Vizcarra e que antes, impôs de maneira violenta a ditadura fujimorista.
Por isso eles também não se envergonham de aliar-se ou chamar voto em qualquer um que essa “esquerda” considera que pode ser favorável. Sobre tudo, no caso do nosso país, se esse “qualquer um” se veste de “antifujimorista”.
É o famoso “mal menor” que tanto dano fez a classe operária.
A história se repete…
Hoje segue acontecendo o mesmo: “Novo Peru” já anunciou que concorrerá em 2021 com “Juntos pelo Peru”. A mesma organização com a que concorreu nas eleições do congresso em janeiro, e que fazem parte o Partido Comunista, Patria Roja e o Partido Humanista do ex primeiro ministro de Alan Garcia, Yehude Simon, investigado e detido por casos de corrupção ligados a Odebrecht.
Ao mesmo tempo defendeu  Vizcarra durante a conjuntura do pedido de vacância de parte de um setor do congresso, invocando “governabilidade” e denunciando esses setores como “golpistas”.
Por sua vez, a “Frente Ampla” se prepara para “eleger” seus próprios candidatos/as com Marco Arana na cabeça, enquanto saltam denúncias de má direção na vida interna da organização, em um conflito interno que somente pode se explicar como uma luta para partilhar as candidaturas com vistas a 2021.
Em paralelo a bancada da FA também saiu em defesa do governo de Vizcarra, chegando a apresentar uma moção de censura contra o presidente do Congresso, acusando-o, também, de golpista.
Uma política operária frente as eleições
Para nós, não existe nenhuma possibilidade de resolver os problemas, nem urgentes, nem estratégicos, por meio das eleições.
Por isso, ainda que no geral consideramos que para a classe operária é necessário utilizar todos os meios que tem na traiçoeira democracia dos patrões, incluindo as eleições, com a finalidade de estender suas lutas. Hoje que morremos aos milhares pela política do governo, e que as demissões cortam na carne a classe operária sob as asas de Vizcarra, o que está colocado com urgência, é unir nossas lutas e nos mobilizar para derrotar o governo (incluindo suas eleições).
Essa é a única política que expressa hoje, a necessidade da classe operária. E exatamente o contrário ao que levanta a esquerda reformista.
Tradução:Túlio Rocha

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