A Casa Branca de Trump e como combatê-la
Este artigo contém partes revisadas e atualizadas do artigo que publicamos no dia da eleição, 5 de novembro
Deve ficar nítido que o presidente eleito Trump é um canalha: racista, abusador de mulheres, amigo de supremacistas brancos e aspirante a homem forte autoritário. Como é possível que ganhou as eleições de 2024?
Algumas pessoas, com certeza, foram enganadas pelas mentiras de Trump ou aceitaram seus argumentos racistas e ultranacionalistas. No entanto, de acordo com as pesquisas, milhões não votaram, o que deveria combater a ideia de que houve um giro massivo para a direita da classe trabalhadora estadunidense.
No entanto, Trump, como um porta-voz de feira, conseguiu atrair muitos eleitores para seu campo com a visão de um futuro glorioso que só requeria reintegrá-lo na Casa Branca. Ele conquistou um contingente considerável de trabalhadores principalmente com suas promessas de mais empregos e preços mais baixos.
A principal receita de Trump para conseguir mais empregos é impulsionar a indústria dos EUA, impondo enormes tarifas sobre produtos fabricados no exterior. “Não permitiremos que os países venham, tomem nossos empregos e saqueiem nossa nação”, declarou Trump. “A maneira de vender seu produto nos Estados Unidos é construí-lo nos Estados Unidos, muito simples.” Trump disse que imporia uma tarifa de 60% sobre produtos da China – o principal fornecedor estrangeiro dos Estados Unidos – e tarifas de até 20% sobre produtos de outros países. Não foi dito até que ponto as tarifas adicionais de Trump contribuiriam para a inflação e provavelmente desencadeariam retaliação de outros países.
Ao mesmo tempo, diz que a Casa Branca de Trump incentivaria a produção industrial dos EUA, reduzindo drasticamente impostos e regulamentações e expandindo a produção de combustíveis fósseis com uma política ambiental de perfuração sem fim. Os lucros inesperados prometidos às empresas industriais supostamente beneficiariam os trabalhadores, embora no passado essas políticas servissem apenas para enriquecer os proprietários.
Para adoçar tudo, Trump espalhou algumas migalhas extras para as massas, prometendo eliminar os impostos sobre os bônus, horas extras e Previdência Social.
Trump também destacou os imigrantes como bodes expiatórios para os problemas econômicos e sociais do país. Segundo ele, toda a delinquência, o desemprego, o consumo excessivo de drogas e o suposto consumo de gatos domésticos se devem a uma “invasão” dos Estados Unidos pelos imigrantes. Como remédio, ele prometeu “selar a fronteira” reiniciando o trabalho em seu “Muro”, enquanto realizava o que, segundo sua campanha disse seria “a maior operação de deportação da história americana”.
Também na tabela de cortes estarão legiões dos chamados “burocratas desonestos” e “inimigos” dentro dos departamentos federais, financiamento para escolas que ensinam sobre direitos trans e “teoria crítica da raça” e inúmeras proteções ambientais. Enquanto isso, o perigo para os direitos reprodutivos será muito ampliado.
Certamente, Trump provavelmente enfrentará muitos obstáculos para alcançar seus objetivos declarados. Para começar, é certo que encontrará fortes ventos contrários em um quadro cada vez mais tenso de políticas protecionistas interimperialistas e guerras comerciais, bem como conflitos militares em vários continentes.
Rana Faroohar, escrevendo no The Financial Times em 3 de novembro, observou: “A política partidária não terminará com estas eleições; de fato, podem piorar. A produtividade desacelera, a população envelhece… e o país enfrenta ameaças competitivas da China e de outros mercados emergentes, que estão cada vez mais se unindo em suas próprias alianças de consenso pós-Washington.”
Embora seja muito cedo para prever exatamente qual ação Trump e seus aliados serão capazes de impulsionar e quais serão as consequências, não há dúvida de que a classe trabalhadora e os oprimidos serão os perdedores, a menos que contra-ataquem.
Após as eleições, os comentaristas da mídia liberal têm gritado sobre como os democratas precisam “se reagrupar” para ganhar a classe trabalhadora de volta às suas listas de eleitores. Mas a história mostra que, no final das contas, tanto democratas quanto republicanos sempre sacrificam os interesses dos trabalhadores para permitir que as grandes empresas continuem funcionando sem problemas e com lucro. Apesar de suas brigas partidárias, especialmente em época de eleições, ambos os partidos servem aos interesses dos ricos, não aos das pessoas que precisam trabalhar para ganhar a vida.
Para repelir os ataques do governo Trump – bem como para obter mudanças significativas – a melhor coisa que podemos fazer é continuar a nos manifestar nas ruas. Precisamos construir movimentos de protesto gigantescos que deixem nítido para os governantes deste país que, se eles não atenderem às nossas demandas, serão engolidos pela rebelião.
Em última análise, a opressão sistemática dos trabalhadores estadunidenses só mudará quando as vítimas, aos milhões, romperem com os dois grandes partidos capitalistas e construírem seu próprio partido independente. Precisamos de um partido da classe operária– liderado por um movimento sindical combativo, democrático e rejuvenescido – que lute todos os dias pelos oprimidos e explorados e que aspire ao estabelecimento de um governo operário.
Tradução: Lílian Enck