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sexta-feira, abril 19, 2024

Sobre a morte de Hebe de Bonafini

Hoje (20/11/2022), aos 93 anos, morreu Hebe de Bonafini e, como era de se esperar, essa morte não passou despercebida no cenário político local. É que Hebe era um símbolo em muitos sentidos. Como um dos rostos visíveis das Mães da Praça de Maio, ela representa uma das lutas mais importantes da história recente de nosso país. Mas, ao mesmo tempo, é também símbolo da subordinação das organizações de Direitos Humanos (DDHH), a um projeto político patronal como o kirchnerismo, que a levou a abandonar, de fato, os pilares fundamentais da luta da qual era emblema.

Por: PSTU – Argentina

Ao falar de Hebe, volta a estar presente o que as Mães da Praça de Maio significam para as lutas do nosso país: a resistência à Ditadura, luta contra a impunidade mesmo nos momentos mais duros, o apoio, em muitos casos fundamental, a lutas importantes. É difícil esquecer que, antes de 2001, foram as únicas que deram espaço a grupos de desempregados para organizar-se ou o apoio às fábricas recuperadas. E é difícil esquecer as Mães em 20 de dezembro de 2001, quando foram brutalmente reprimidas ao tentar entrar na Praça de Maio. É que as Mães, lutando por seus filhos, se tornaram mães de todas as lutadoras e lutadores por décadas.

Hebe é um símbolo disso, e é por isso que os setores nefastos que, abertamente ou não, reivindicam a Ditadura a odeiam. Contra esses setores, e suas críticas direitistas a Hebe e às Mães, não hesitamos em defender essa trajetória, justamente a que eles atacam.

Mas, infelizmente, Hebe não era só isso. Com sua adesão ao kirchnerismo peronista e a defesa militante de seus governos, tornou-se em muitos casos um instrumento contrário ao que havia simbolizado. O kirchnerismo tinha uma política de desviar e institucionalizar toda a luta que travamos por décadas, tornando as organizações de direitos humanos dependentes do Estado. Assim, deixaram de ser, cada vez mais, expressões de luta e resistência, visto que todos os governos na democracia mantiveram a impunidade (temos que lembrar foram apenas 1.058 condenados por crimes durante a última Ditadura, e grande parte dos assassinos e torturadores permanecem impunes, militares, altos membros da Igreja e cúmplices civis). Hebe também foi um ícone desse processo.

Não podemos deixar de lembrar, com muita dor, como agiu diante do desaparecimento de Julio López e diante de todas as repressões realizadas pelos governos peronistas K. Não podemos deixar de lembrar o caso do ” Sonhos compartilhados” escândalo de corrupção com casas populares. Não podemos deixar de lembrar a imagem simbólica em que tirou o lenço para tirar uma foto com o general genocida Milani.

A luta pelos Direitos Humanos não é só contra a repressão na Ditadura, nem só contra a própria repressão: é a luta pelo direito à alimentação, ao estudo, à saúde, à moradia e a uma vida digna. Essa luta foi abandonada por Hebe, e ela até a deu do lado dos exploradores e opressores.

Hoje nos despedimos desse símbolo que, para nós que continuamos lutando contra a repressão de ontem e de hoje, a partir da independência de classe, é contraditório. Continuar a luta pela abertura dos arquivos da Ditadura e contra a impunidade que ainda persiste, é talvez a melhor homenagem que se pode fazer a essa Hebe da resistência que reivindicamos.

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