sáb abr 20, 2024
sábado, abril 20, 2024

25N, Dia mundial de luta | Os governos «progressistas» acabarão com a violência machista?

Em breve recordaremos as irmãs Mirabal, símbolo da luta contra a violência contra a mulher. Ao mesmo tempo, a vitória apertada de Lula no agitado Brasil, coloca mais uma vez em debate se as ilusões que milhões de mulheres e setores oprimidos depositadas nos governos chamados de “esquerda”, se concretizarão.

Por: Secretaria de Mulheres PSTU- Luta Mulher

As irmãs Mirabal, militantes contra o ditador dominicano Rafael Trujillo, foram assassinadas por ordem deste, em 25N de 1960. Embora as identifiquemos com a violência machista, representam muito mais: o protagonismo feminino na luta contra a opressão dos povos e dos Estados repressores.

Da mesma forma acontece hoje no Irã, onde a fúria feminina e popular enfrenta a ditadura dos Aiatolás, ou na Ucrânia, onde muitas adolescentes e jovens fortalecem as fileiras da resistência.

Batalhas valiosas que não conquistaram

Na América Latina e Caribe (LAC) sobram exemplos de coragem feminina: a primeira linha das recentes insurreições no Chile, Colômbia ou Peru e, em outra escala, as multitudinárias mobilizações por “Nem Uma a Menos” ou pelo aborto legal na Argentina.

Desse modo, conseguimos alguns avanços jurídicos importantes: leis que punem a violência machista, educação sexual não sexista, aborto legal e gratuito, casamento igualitário, direitos para as pessoas trans, ministérios da mulher e de gênero, por exemplo.

Não pudemos ir além por causa das direções políticas, sindicais e do movimento de mulheres, aliadas, em grande parte, aos governos “progressistas”. No contexto da crise mundial e da pandemia, tais governos não mostraram diferenças notáveis com outros, denominados de “neoliberais”.

Um saque de séculos e sem freio

Embora o PT de Lula, os Kirchner ou o MAS de Evo Morales tenham governado seus respectivos países por mais de uma década, de mãos dadas com o Papa e as Igrejas Evangélicas, a América Latina continua se empobrecendo.

Desigualdade social:  é a região mais desigual do planeta. 10% concentram 37% da riqueza, enquanto que os 40% mais pobres recebem 13%. Uma mulher em um bairro pobre de Santiago do Chile nasce com uma esperança de vida 18 anos menor que outra da zona mais rica da cidade (1).

Gravidez adolescente:  Tem a mais alta proporção de mães adolescentes, 18% em todo o mundo (2).  A maternidade precoce ocorre nos lares mais pobres e é obstáculo ao estudo, ao emprego e à independência econômica.

Direitos sexuais e reprodutivos:  O aborto está criminalizado, exceto em cinco países: Cuba, Porto Rico, Uruguai, Argentina e Colômbia, assim como nos Estados do Distrito Federal e Oaxaca, no México. Apesar disso, supera a média mundial em quantidade de abortos, a maioria inseguros e clandestinos.

No Chile, Gabriel Boric, prepara um projeto para o Congresso, depois que a Constituição foi rechaçada em setembro, que dava lugar ao aborto legal. Ou seja, o acesso a esse direito é postergado outra vez. Por sua vez, Lula mudou de posição durante a campanha do segundo turno, e se manifestou contra a legalização, certamente para captar eleitores das Igrejas Católicas e Evangélicas.

Violência machista: 14 dos 25 países com maiores índices mundiais de feminicídios e crimes de ódio, se encontram na América Latina. O Estado Plurinacional da Bolívia está entre os cinco países da América Latina com maior proporção de feminicídios. A pandemia aprofundou a grave situação anterior, provocando um retrocesso entre 15 e 18 anos em questão de direitos das mulheres e meninas (3).

Igualdade trabalhista: A crise deflagrada pela COVID 19 atingiu mais as mulheres: 4 milhões não conseguiram voltar ao trabalho. A brecha salarial não foi reduzida: no México, por exemplo, as mulheres ganham em média 46% do que os homens recebem; na Argentina, 51%, no Chile, 56%, e no Brasil 58% (4). As desigualdades são acentuadas para jovens, migrantes, afrodescendentes e indígenas.

A resposta dos “progressismos” é uma limitada política de assistência social, que pode ser válida na emergência, mas não como estratégia de solução.

Opressões: Restituir território aos povos originários ou dar direitos civis às diversidades, são parte da dívida com as minorias discriminadas. Somente onze países aprovaram o casamento igualitário, contando Cuba e México, em 2022. É indignante que se chamem de “esquerda” os governos resistentes a conceder direitos tão básicos.

Por uma Revolução e uma Segunda e Definitiva Independência!

O povo trabalhador sofre miséria, como as descritas, devido à pilhagem imperialista e às dívidas externas. Os governos da América Latina, mesmo os que se autoproclamam herdeiros de San Martín e Bolívar, mantém esses grilhões.

Serviram para muito pouco, embora tenham colocado mulheres, LGBTs, afrodescendentes ou originários em altos cargos, sancionado leis e criado ministérios. Carecem de políticas concretas e orçamentos, porque seu objetivo é perpetuar o capitalismo, este sistema onde muitíssimos de nós suamos para que alguns poucos fiquem com tudo. Continuaremos assim de mal a pior, embora nos falem de “justiça social” ou nos agitem as bandeiras vermelhas do PT de Lula.

Também não nos serve a luta separada das mulheres e diversidades, que a maioria dos feminismos levanta, inclusive o novíssimo Encontro Plurinacional. São direções afins, em sua maioria, aos governos “progressistas”, como grande parte das direções das centrais operárias tradicionais. Essa política nos afasta dos nossos companheiros homens da classe trabalhadora, nos debilita para lutar.

Temos que nos organizar a partir de baixo, obrigar essas direções a romper suas tréguas e a enfrentar as políticas pró-imperialistas, ultrapassá-las, quando se negam a fazê-lo!

Para o PSTU- Luta Mulher, a possibilidade de bem estar para trabalhadores e trabalhadoras, de frear a violência machista, de libertar os setores oprimidos, está na auto-organização conjunta da classe trabalhadora e do povo pobre, para lutar por uma saída própria, operária, que acabe com toda a exploração e opressão.

O desafio é fazer uma Revolução que alcance a Segunda e Definitiva Independência Continental, liderada pela classe operária, que a leve ao governo, e comece a construir uma sociedade socialista. O partido bolchevique conseguiu na Rússia de 1917. Venha construir as bases dessa enorme tarefa conosco.

Notas:

1 Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, (PNUD), informe de dezembro de 2019

2 Noticias ONU, news.un.org, 5 de julho de 2022

3  Infobae, ONU Mulheres América Latina e Caribe, 12 de junho 2022.

4  Fórum Econômico Mundial 2020

tradução: Lilian Enck

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