ter abr 16, 2024
terça-feira, abril 16, 2024

Itália| Apoiamos as mobilizações operárias por um outono quente de luta e resistência

Escrevemos este artigo em meio à campanha eleitoral para as eleições de 25 de setembro, caracterizada pelo habitual e nauseabunda lista de promessas dos partidos burgueses e das grandes ilusões propagadas pelos partidos e coalizões reformistas. Tudo dirigido a canalizar as lutas para uma perspectiva perdedora de mudança dentro do sistema capitalista. Apesar disso, há mobilizações operárias contra as demissões, as transferências, o alto custo de vida e as condições de trabalho, demandas e reivindicações que todos devemos apoiar para alimentar um outubro quente de luta e resistência, cada vez mais urgente.

Por: Daniele Cofani (operário de Alitalia) 

A luta operária é retomada desde Wartsila

Entre os dias 20 e 21de julho assistimos à enésima crise de governo com a queda do Executivo do banqueiro Draghi: embora queiram mostrar que há uma descontinuidade entre os diferentes governos, podemos afirmar com segurança que os ataques perpetrados contra a classe operária e todas as categorias oprimidas (mulheres, negros, LGBT+) mantêm uma certa “estabilidade”, ditada pela administração capitalista deste sistema, onde os diferentes governos se colocam ao total serviço dos patrões e banqueiros.
Um exemplo é a questão das transferências que continuam empobrecendo o tecido industrial e social do país, com encerramento de atividades e demissões, questão que veio à tona no caso da Gkn, mas que confrontamos diariamente com contínuos fechamentos e fugas de empresas e multinacionais. O último caso, por ordem cronológica, é o anunciado pela Wartsila de San Dorlingo della Valle (Trieste) – que foi a sede da Grandi Motori– com a intenção de transferir sua produção para a Finlândia o que põe em risco o posto de trabalho de 450 trabalhadores, mais o mesmo número de postos de trabalhos indiretos. Justamente esta situação está reiniciando importantes iniciativas de luta que poderiam desencadear outros preparativos para um outono que, achamos que será muito quente. De fato, os trabalhadores da Wartsila se opõem com força ao destino que a multinacional quer impor e se mobilizaram de imediato contra o plano de deslocamentos e demissões. Cabe destacar a grande manifestação que foi realizada em 3 de setembro em Trieste (1), na qual toda a cidade – e não só ela – se reuniu ao redor dos 450 trabalhadores em luta.  Pelas ruas da capital friulana desfilaram mais de 10 mil pessoas com diferentes realidades operárias em solidariedade, começando pelo Coletivo de Fábrica Gkn de Florença, os trabalhadores da Flex e Electrolux Zanussi e, sobretudo, a Coordenação de Trabalhadores Portuários de Trieste que, além de lotar a praça com os demais trabalhadores, convocou uma greve de solidariedade durante todo o dia, bloqueando efetivamente as atividades do porto, inclusive as relacionadas com Wartsila Italia: 12 motores prontos e já levados para a zona portuária não foram carregados em um navio designado para entregá-los à Daewoo.
Em resposta – nas reuniões que se seguiram em Mise – a direção da Wartsila apresentou aos sindicatos um “plano de mitigação” sem retirar o procedimento de demissão, ou seja, demissões de trabalhadores e busca de um assessor que se ocupe da reindustrialização. Em suma, nada novo, mas apenas a intenção da multinacional de evitar suas responsabilidades. Esta proposta é semelhante ao recente acordo alcançado para a salvaguarda trabalhista dos trabalhadores da Gkn, que deveria evitar as demissões, mas que, com o passar dos meses, está mostrando todas as falhas em termos da sua aplicação dentro deste sistema econômico e a consequente reconversão da planta industrial, tanto é assim, que os companheiros do Coletivo apresentaram uma nova proposta para relançamento da fábrica (2) com novas iniciativas de luta.

Enquanto isso, chegam boas notícias de Trieste: os operários de Wartsila estão devolvendo o “plano de mitigação” ao remetente: em 14 de setembro (3) ocorreram greves espontâneas e marchas iniciadas dentro da fábrica fora do controle das burocracias sindicais, e em 23 de setembro, o tribunal de Trieste condenou a multinacional finlandesa por atividades antissindicais, cancelando o procedimento de demissão.

Estes operários, organizados em um coletivo, entenderam bem que nada de bom pode sair de acordos entre burocracias, instituições e patrões, e que não será uma sentença para salvá-los, por isso não querem ceder na batalha para defender a fábrica e o trabalho, exigindo a nacionalização do estabelecimento.

Vamos nos unir às lutas pelo controle operário

Nos últimos anos, houve um forte aumento de indústrias que foram transferidas e/ou que encerramento de suas atividades, com o consequente fechamento de fábricas em vários territórios. Para citar algumas, temos a Embraco de Turín, a Whirpool de Nápoles, a Giannetti ruta de Monza, a Caterpillar de Jesi, a Bekaert e a Gkn de Florença. Mas também é necessário mencionar a Alitalia, que Conte primeiro e Draghi depois, com o apoio do Partido Democrático, ao não poder optar pela realocação, decidiram cancelá-la diretamente apesar de uma dura resistência dos trabalhadores.  Se lermos as histórias destes conflitos, nos damos conta de que as soluções adotadas em conjunto entre patrões, instituições e direções sindicais só salvaguardaram os lucros e a propriedade privada dos meios de produção. Cada disputa fala de assessores e planos de mitigação, reconversão, reindustrialização, realocação, requalificação, ascensões adiadas e muitas demissões: um desgaste funcional para uma forte redução ou ao fechamento total dos parques industriais, com as consequentes demissões.
As leis contra as transferências estão sendo discutidas no debate político há anos, e recentemente também foi redigida uma pelos companheiros da GKN, para a qual, entretanto, o governo de Draghi favoreceu a proposta da vice-ministra M5s Todde. Mas a questão não é qual pode ser a melhor lei, mas se ela própria – embora tenha sido redigida pelas vanguardas operárias – pode ser plenamente aplicada dentro de um sistema socioeconômico gerenciado diretamente pela Confindustria. A resposta é não e o exemplo mais chamativo são as centenas de acordos sindicais que foram pontualmente não atendidos, sem mencionar o desmantelamento do estatuto dos trabalhadores, questões todas que nos obrigam a mudar de rumo nas reivindicações operárias.
Nenhuma lei e/ou acordo entre patrões, instituições e burocracias poderá satisfazer os trabalhadores, mas só o protagonismo direto da classe operária poderá proteger suas próprias exigências gerenciando diretamente a produção e a sociedade em seu conjunto. Por isso, a consigna que os trabalhadores e as trabalhadoras devem adotar deve ser a nacionalização sem indenização e sob controle direto das fábricas abandonadas e/ou relocalizadas, assim como de todos os serviços públicos essenciais. Não é uma utopia, ninguém poderá substituir a classe operária na produção, mas a própria classe operária poderá se tornar classe dominante.
Em sua experiência, os trabalhadores da Gkn estão nos dando um exemplo de gestão operária dos espaços ocupados, agora devemos avançar também na gestão direta da produção. Por isso, é necessária uma convergência geral sobre a questão do controle operário, que sirva para fazer avançar a consciência das vanguardas do país e construirmos juntos um outono de luta e resistência que coloque em discussão o modelo de produção, de desenvolvimento e, sobretudo, o modelo social.

(1)https://www.ansa.it/sito/news/economy/2022/08/27/wartsila-in-sciopero-al-lavoratori-attivita-portuali_07d075f7-fa67-453b-ae51-b0998f4ce83e.html

(2)https://m.facebook.com/story.php?story_fbid=pfbid02eQh2BtuKMsc4M9zt68ckYH7F38EcVGvvcfLXgtcBHnp4o6ZqnQS4JQu7NamU477Cl&id=100063722070718

(3)https://www.facebook.com/109869245165074/posts/pfbid0g8BaGDeNDeUfpWiSSaWwzcC67K1k2C8zzF6Jd4CXnWg3Dieed1FWbjG5KG5zmNndl/

Artigo publicado em www.alternativacomunista.it, 25/9/2022.

Tradução do italiano para o espanhol: Natalia Estrada.

Tradução do espanhol para o português: Lilian Enck.

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