A crise geral é um episódio do ciclo econômico. Além de tornar visível o conjunto de contradições próprias de uma formação social, evidenciam-se os posicionamentos políticos de classe entre os atores que intervêm em um cenário determinado.
Por: MIT-Chile
A situação revolucionária, de outubro de 2019, serviu para tirar uma série de lições, relacionadas ao papel colaborativo das direções reformistas, os avanços e retrocessos ideológicos do proletariado chileno, bem como a ausência de uma direção revolucionária.
Mas, em tal cenário, o dia 12 de novembro marcou uma virada, onde a classe trabalhadora demonstrou seu poder, ameaçando com a queda de Piñera e do próprio regime.
Diferentes correntes revolucionárias compartilham desses elementos, assim como o fato de que a falta do fator subjetivo operou como elemento chave para o triunfo do Acordo do 15N. Assim, a contenção social e o desvio institucional salvaram Piñera e o Parlamento, com o apoio ativo dos partidos do regime, da Frente Ampla ao Chile Vamos.
O Partido Comunista, que costuma se gabar de sua tradição revolucionária, manteve repetidamente uma política de alianças com os partidos burgueses, como a Democracia Cristã e a Revolução Democrática. Isso, supostamente, serviu para ele “treinar sua militância no exercício do poder”, mas, especificamente, acabou jogando como “ala esquerda” ou “progressista” da burguesia, servindo às políticas do FMI e do Banco Mundial, que discursivamente diz combater.
Da mesma forma, no marco do que foi nossa campanha pela nacionalização da grande mineração em grande escala, o Partido Comunista permaneceu imóvel, apesar de sua capacidade de convocação, limitando-se a apoiar na Convenção de forma supraestrutural, mas sem estimular a participação e discussão entre suas bases.
É por isso que a classe trabalhadora (chilena e mundial) precisa da construção de uma nova direção. Ou seja, um partido revolucionário de massas capaz de liderar o conjunto de lutas que se desenrolam hoje e em todo o mundo contra o modo de produção capitalista.
A campanha pelo Aprovo, a partir de nossa posição, foi assumida de forma crítica. Isso envolve a tentativa de desvendar o conjunto de mentiras que suscitam a campanha do Rechaço e do aprovo.
Os setores mais reacionários aludem ao fato de que não haverá casa própria, que os fundos de pensão/aposentadoria serão expropriados, que os povos indígenas terão mais privilégios que o resto do país, entre outras falsidades.
Por sua vez, os setores do reformismo pequeno-burguês apontam que a Nova Constituição conquistará algo como um “paraíso na terra”, garantindo direitos sociais que elevarão o padrão de vida da população. Isso é igualmente falso.
Por exemplo, recusaram-se a nacionalizar o cobre e hoje promovem uma tímida reforma tributária. Essa formulação está longe de arrecadar o mínimo necessário para financiar os direitos sociais contidos no próprio programa Aprovo Dignidade, sem apontar que está sujeito a negociação parlamentar com a direita, da qual resultarão concessões que restringirão ainda mais seus termos já modestos.
No MIT reconhecemos que o processo constitucional, como as retiradas da AFP, foi fruto da luta de classes, expressa como mobilização social, que deixou mortos, mutilados e presos pela burguesia.
Mas também sabemos que a economia capitalista e o sistema político da democracia burguesa estão em flagrante crise, diante da qual proliferam rebeliões populares e desastres ecológicos. Esses episódios costumam ameaçar com a queda de governos, diante dos quais os setores mais reacionários divulgam instauração de ditaduras.
Tal processo de avanço é mais uma vez ameaçado pelo poder de fogo econômico, político e ideológico da oligarquia. Esta tem hoje o Partido Socialista e a Frente Ampla liderando um processo de reestruturação política e econômica, cujo horizonte é consolidar um projeto de conciliação de classes em favor do grande capital.
Diante disso, o PC permanece imóvel, recebendo concessões que não vão além de seu aparato (como cargos na administração pública e prioridade nas próximas listas eleitorais), sendo coerente com sua política histórica de convivência pacífica e revolução por (falsas) etapas.
Como MIT, acreditamos que a implantação de nossa campanha deve ser realizada principalmente entre os setores estratégicos da estrutura produtiva, como os setores portuário e de mineração no Chile. A realização de ações de agitação e propaganda nesses espaços, a construção de organizações revolucionárias neles constitui uma orientação central para nossas equipes. Essa tarefa precisa ser complementada ativamente com o trabalho voltado para a juventude, que desde os anos 2000 protagonizou e/ou promoveu processos de ascenso de massas.
A construção revolucionária é uma tarefa árdua. Exige disciplina e dedicação, mas também fraternidade e solidariedade. Como MIT, estamos prontos para avançar nessa direção, dando passos concretos no que significa hoje o porto de Valparaíso.
Venha construir o MIT.