sex mar 29, 2024
sexta-feira, março 29, 2024

Deputados e governo ucranianos minam a resistência contra os invasores

Os trabalhadores devem tomar a defesa da soberania nacional em suas mãos.

O parlamento ucraniano (Rada) e Zelensky atacam os trabalhadores pelas costas. Acabam de votar uma lei que permite aos capitalistas não pagar os salários aos trabalhadores que foram à frente de batalha para defender o país. Enquanto isso, os deputados aumentam seus próprios salários.

A heroica resistência do povo ucraniano expulsou as tropas de Putin de Kiev, Chernigov e Kharkov, obrigando o invasor a concentrar sua ofensiva no Donbass ao leste, onde encontrou a decidida determinação da classe operária da região mais industrializada do país a derrotar o invasor. Demorou várias semanas para tomar Mariupol, Severodonetsk e Lisichansk, e conseguiu apenas controlar estas cidades após demoli-las com massivos bombardeios e artilharia.

Por outro lado, no Sul ocupado, em especial em Kherson, onde o rio Dnieper desemboca no Mar Negro, os invasores não podem consolidar o controle, pois estão rodeados por uma população hostil, são perseguidos por um crescente movimento partisano e atos de sabotagem, como a explosão dos depósitos de munições russos em Kherson e das pontes sobre o Dnieper.

Teatro de operações na Ucrânia. A parte em amarelo está sob controle de Kiev

Não obstante, se na linha de frente a determinação do povo levanta o moral de combate e desestabiliza os ocupantes, não se pode dizer o mesmo da retaguarda. Uma vez que as recentes medidas do parlamento sancionadas pelo governo Zelensky questionam o fator fundamental que permitiu as vitórias parciais nesta guerra desigual: a heroica resistência do povo trabalhador ucraniano, que trava uma guerra justa por sua terra, sua liberdade e independência.

Diante das promessas não cumpridas dos imperialismos norte-americano e europeu de enviar armas ofensivas que nunca chegam à frente de batalha, as esperanças de derrota militar de Putin e de seu regime, o que abriria o caminho para a liberdade de muitos povos sob seu jugo, se concentram na capacidade de resistência do povo trabalhador ucraniano. Entretanto, enquanto os trabalhadores lutam pela liberdade e independência do país na linha de frente contra os invasores, os deputados e os funcionários do governo os atacam pelas costas em busca de lucros para os oligarcas e corporações estrangeiras. Minam a resistência e ajudam Putin.   A agressão de Moscou está sendo combatida, enquanto enfrenta uma quinta coluna a partir de Kiev!

Nas costas dos trabalhadores, o governo redigiu uma lei que permite aos empresários demitir os trabalhadores sem justificativa nem advertência. A Rada aprovou em primeira leitura uma lei sobre o contrato de trabalho de 0 hora, que de fato elimina as garantias de emprego e de rendas estáveis. Foi adotada pela Rada e assinada por Zelensky desde 19 de julho, uma lei elaborada pela chefe da comissão parlamentar de “política social”, Jalina Tretyakova, que permite aos capitalistas deixar de pagar os salários aos trabalhadores que foram à frente de batalha defender o país.

Como se fosse pouco, os deputados, em plena vigência da situação de guerra, aumentaram seus salários. E ninguém votou contra. É evidente, que se trata de uma “recompensa” pelas leis antioperárias a serviço dos oligarcas. Isso é uma piada macabra, que causou massiva indignação.

Isto ocorre em meio da guerra, quando os trabalhadores dão a vida pela liberdade da pátria, muitas vezes sem o mais necessário, e suas famílias sofrem penúrias na retaguarda. A lei de Jalina Tretyakova, assinada por Zelensky, despoja os operários em combate dos salários civis.

Os trabalhadores da linha de frente denunciam e exigem do governo

A indignação com as políticas do governo está sendo nitidamente refletida nas numerosas mensagens individuais e coletivas gravadas nas trincheiras. Uma mensagem de vídeo viralizou nas redes, do soldado e mineiro de carvão de Donbass, Sergei Prikhodko:

“Estou servindo na linha de frente desde março. Durante os primeiros três meses, não recebi nem um centavo do Estado pelo meu serviço. Minha família – uma filha pequena e uma esposa grávida -, viviam com este salário civil. Isto nos ajudou muito. Se não fosse por esse salário, tudo seria um desastre. Neste momento, estou começando a receber alguma quantia em dinheiro pelo serviço militar. Mas com a carestia não faz diferença. Creio que está muito errado e é um delito nos tirar o que nos pertence, que é nosso salário mensal. Trabalhei na indústria do carvão durante mais de 10 anos. E somos muitos os que trabalhamos durante muitos anos. Trabalhei o suficiente para ganhar este salário mensal. Se nossas autoridades pensam que é possível nos privar disto facilmente, então, que proponham uma lei que me exima de responsabilidade penal e possa regressar livremente à minha posição civil, continuar trabalhando, ocupar-me do meu sustento e estar perto de minha família, que estará segura porque eu estarei lá. Agora eu, um soldado, não sinto essa segurança. Minha família está perdendo o sustento e direitos.

Ou seja, acontece que minha filha, minha esposa e eu não somos ninguém. E os mobilizados, que já começam a sofrer os mesmos delitos, também não são ninguém. Entendo que a situação do país é difícil. Mas esta não é a saída! Metem a mão no bolso daqueles que defendemos nossa pátria e nosso povo. Portanto, peço a todos – os mobilizados, os soldados contratados, os que foram privados de seu salário mensal, privados de suas rendas – que se reúnam nas redes sociais para conseguir ao menos algum resultado. Que Tretyakova venha aqui pelo menos uma vez, na linha de frente, para ver quem, como, o que estamos fazendo!…

Acreditam que obtemos muito dinheiro, verão que não é assim. Meu nome é Prikhodko Sergey. Sou do Donbass ocidental. E não tenho medo pelas minhas palavras. E acreditem, há muita gente como eu. Agora no momento, precisamos tomar nossas posições de combate nas trincheiras. Seja como for, ninguém vai para casa, resistiremos até o final. Mas vejo que nossos governantes começam a cuspir um pouco em nós. Tudo isto pode acabar muito mal. Não peço a ninguém que largue as armas, que volte para casa, que faça greve, que vá a Kiev, de nenhuma maneira.

Continuaremos lutando tenazmente contra os invasores. Mas se continuarem assim, desculpe-me, terei que deixar tudo e voltar para casa com minha família”.

Nas mãos de quem deve estar a condução da defesa nacional

Estas palavras certeiras e profundas de um operário armado e a partir das trincheiras mostram com total crueza o que acontece quando a suposta defesa do país está no comando dos oligarcas pró-imperialistas e seu governo. Estes ataques pelas costas aos defensores operários da Ucrânia são a maior ajuda que o assassino Putin e suas hordas invasoras recebem.  No entanto, enquanto Zelensky posa para a revista “Vogue”, fazendo pose de sua “valentia” por não ter fugido, atende às exigências dos oligarcas e corporações estrangeiras, que nem sequer estão no país e cujos filhos não lutam na frente de batalha. Derrotar Putin requer o contrário. A vitória na guerra não requer assegurar os lucros dos oligarcas, mas a expropriação de todos os negócios associados a Putin, a nacionalização e centralização nas mãos do Estado da economia a serviço da defesa sob o controle dos trabalhadores.

Nem demissões nem suspensões forçadas! Garantir trabalho para todos, como parte de um plano de defesa nacional.

Não privar os trabalhadores e suas famílias de renda! Plena provisão ao povo na linha de frente e na retaguarda.

Só a classe operária pode assegurar estas tarefas de defesa tomando-as em suas próprias mãos.

Defender a soberania à custa dos lucros capitalistas!

Não aumentar os lucros à custa da defesa!

Tradução: Lilian Enck

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