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sexta-feira, abril 19, 2024

Colômbia| Os trabalhadores e trabalhadoras diante do novo governo

Em 7 de agosto, Gustavo Petro e Francia Márquez tomam posse em meio às expectativas geradas por um governo de oposição ao Uribismo, e que conseguiu vencer as eleições contra esse setor da burguesia graças ao apoio das massas esgotadas por décadas de fome e repressão. As massas, depois de terem encenado a histórica Paralisação Nacional, também manifestaram nas urnas seu desprezo por esse regime que merece ser enterrado imediatamente.

Por: PST Colômbia

Petro conseguiu reunir o desejo de mudança sentido por um grande setor da população, especialmente os mais oprimidos e explorados, que acreditam que com seu governo poderemos “vivir sabroso[1], ou seja, sair do atraso, miséria e a desigualdade em que os últimos governos submergiram os trabalhadores e despossuídos deste país. A partir do PST temos acompanhado essa experiência de luta e descontentamento, tanto nas ruas quanto nas urnas, apoiando firmemente a Paralisação Nacional e votando criticamente em Petro e Francia, ou seja, votando neles sem deixar de expressar as limitações e contradições de seu programa. E reivindicando a luta direta como o único método realmente eficaz pelo qual alcançaremos essas mudanças profundas que realmente nos permitirão “vivir sabroso” e a necessidade de ir mais longe, em direção a uma revolução socialista que acabe com o capitalismo, responsável pelas penúrias das massas.

Nesse contexto, Petro está ciente de que deve responder às demandas das massas, porém, sua política atual para isso é nos convidar – trabalhadores, lutadores, lideranças sociais etc. – a integrar e apoiar seu governo; é por isso que o “ diálogo social” foi organizado, e por isso, especificamente, nos convida no dia 7 de agosto a “encher praças e ruas” para recebê-lo. Infelizmente, este convite também foi estendido a setores da burguesia que fizeram parte de governos anteriores e, portanto, têm responsabilidade – independentemente de sua relação com o Uribismo – na atual crise econômica e social que estamos sofrendo. E pior ainda, os convites para esses setores já foram aceitos, estando vinculados principalmente à formação do gabinete ministerial, em que ficaram em suas mãos os cargos mais relevantes e de maior incidência governamental, garantindo que seus interesses e privilégios estarão seguros sob o novo governo.

Um governo com essa composição de classe não será nosso governo: um governo dos trabalhadores, dos oprimidos e dos explorados. Não é possível conciliar nossos interesses com os da burguesia, ainda mais sob um governo que já conta com o respaldo e apoio da maior potência opressora e exploradora do mundo: o imperialismo norte-americano. Os encontros de Petro com Uribe, por um lado, e com delegados do governo Biden, por outro, simplesmente dão a garantia à burguesia nacional e internacional de continuar seus planos, que são contrários a qualquer possibilidade de poder “vivir sabroso”; o governo pode mudar sua forma, mas o conteúdo fundamental permanece.

Compreendendo o cansaço das massas diante de décadas de guerra e violência contra os trabalhadores, explorados e oprimidos deste país, não podemos cair na armadilha de ficar do lado de nossos perpetradores, de fechar uma trégua com eles em nome de uma suposta “paz” social em torno da formação de um Pacto Histórico com nossos algozes. A paz que os trabalhadores do campo e da cidade precisam, necessita da recuperação das terras, da punição dos culpados da violência paramilitar e da recuperação dos direitos tirados durante décadas de violência. Isso é impossível mantendo a impunidade e os privilégios dos latifundiários e capitalistas, organizadores, financiadores e beneficiários da violência paramilitar.

Nesses momentos de crise econômica e social, é imperativo que se mantenha a perspectiva de luta direta, como vem sendo realizada com a Paralisação Nacional, e de organização da luta independente do governo em sindicatos, assembleias, bairros, primeiras linhas, etc. Embora apenas a própria realidade nos mostre a resposta do novo governo, a partir de agora podemos ter uma caracterização baseada em sua composição, para nos prepararmos diante das altas possibilidades de que nossos interesses, os interesses das maiorias, choquem com os da minoria que conseguiram seu lugar no governo.

As organizações de trabalhadores não podem permitir-se vincular-se ao novo governo. Ele tentará conter as aspirações democráticas e econômicas das massas dentro das “possíveis” reformas. Mas precisamos ir além. Por isso é necessária a total independência, pois a mobilização pelas demandas é e será nosso principal instrumento. É por isso que temos que construir nossos próprios organismos de luta.

Exigimos a execução de um plano de emergência contra a crise

As demandas das massas que se levantaram durante a Paralisação Nacional não esperam. É preciso derrotar de conjunto o regime autoritário e sanguinário herdado do Uribismo, e sabemos que isso só é possível com a luta nas ruas. Hoje o regime é cruel contra os jovens da Primeira Linha, que estão sendo presos e processados. Devemos exigir sua libertação e, se o Ministério Público se opuser, exigimos com mobilização; devemos estancar o sangramento dos lutadores sociais e a violência no campo; medidas devem ser exigidas do novo governo para desmantelar o paramilitarismo.

A carestia e a inflação não param, agravadas pela desvalorização do peso, atingem diariamente os trabalhadores e a maioria da população. O reajuste salarial anual já foi ultrapassado e é preciso lutar por um reajuste salarial real que cubra a cesta básica, bem como pelo controle do preço de seus produtos. É necessário um plano emergencial contra a crise econômica, social e ambiental, cujo financiamento poderia ser feito pelo não pagamento da dívida externa.

Da mesma forma, é necessário que Petro se aprofunde nas políticas que ele disse estar disposto a promover: não estamos satisfeitos com as reformas das EPS, elas devem ser eliminadas ao mesmo tempo em que um sistema de saúde totalmente oposto ao atual deve ser implementado, onde a prioridade seja a saúde e a vida, e não o lucro dos empresários. Também não estamos satisfeitos com a reforma do Esquadrão Móvel Antidistúrbios (ESMAD) como propôs o novo ministro da defesa, pois o compromisso feito com a juventude foi de desmantelá-lo e promover uma profunda democratização das Forças Armadas. Não há mudança possível sem desmantelar o regime político autoritário herdado do Uribismo.

Se aprendemos alguma coisa com a Paralisação Nacional, é que direitos se conquistam na luta e que não vamos ganhar nas urnas o que não ganhamos nas ruas. A classe operária, junto com os setores populares, deve buscar na luta e na mobilização, o caminho para um verdadeiro governo operário e popular, construindo um partido e um programa revolucionário e socialista que nos leve a derrotar o principal obstáculo para que possamos todos vivir sabroso: o capitalismo em decadência. Para isso, nós trabalhadores devemos manter nossa total independência.

Comitê Executivo do PST, 5 de agosto de 2022


[1] Slogan de Francia Márquez, que significa, segundo explicam os pesquisadores, “um modelo de organização espiritual, social, econômica, política e cultural em harmonia com o meio ambiente, com a natureza e com as pessoas” e faz parte da herança linguística do Pacífico, especialmente do departamento de Chocó . Acessível em: https://cnnespanol.cnn.com/2022/06/22/vivir-sabroso-francia-marquez-colombia-que-es-orix/ (ndt.)

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