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sexta-feira, abril 19, 2024

Construir uma resposta revolucionária dos trabalhadores contra a inflação e a carestia de vida

Quando encaramos os desafios políticos na atualidade é fundamental olhar para as propostas levantadas pelos revolucionários noutros momentos históricos e usá-las como referência para elaborar um programa nos nossos dias.

Por: Maria Silvia – Em Luta/Portugal

Hoje a inflação crescente é produto da guerra, mas é acima de tudo um método utilizado pelos patrões para fazer crescer os seus lucros, à custa dos trabalhadores. A fome ou a falta de bens essenciais básicos é já uma realidade constante a que os trabalhadores têm de responder.

Mas a carestia de vida é um problema estrutural do capitalismo em vários momentos da sua história. Leon Trotsky foi um dos grandes líderes da Revolução Russa, posteriormente perseguido e mandado assassinar por Stalin, pelo seu combate contra a sua perspectiva do “socialismo num só país” e contra a degeneração burocrática e contrarrevolucionária da URSS. O período entre a I e a II Guerra mundial foi marcado por uma inflação galopante e um brutal desemprego em vários países, com destaque para a Alemanha. Por isso, quando se funda a IV Internacional, um dos itens da proposta de programa apresentado é o da “Escala móvel de salários e escala móvel de trabalho”, com duas propostas para combater os flagelos do desemprego e da carestia de vida.

Recuperar aqui o Programa de fundação da IV Internacional serve-nos, portanto, para refletir sobre a saída para a situação atual, que necessariamente não pode ser uma medida isolada. Ela tem de ser parte de um plano de combate à crise econômica ao serviço dos trabalhadores. Nesse sentido, deixamos um extrato do capítulo do Programa de Transição como contributo para pensarmos esse programa hoje e percebermos também a atualidade da elaboração de Trotsky.

Escala móvel de salários e escala móvel de trabalho

(In Programa de Transição para a Revolução Socialistas, Leon Trotsky, 1938)

“Nas condições do capitalismo em decomposição, as massas continuam a viver a vida morna de oprimidos que hoje, mais do que nunca, estão ameaçados de serem lançados no abismo da miséria. Elas são obrigadas a defender seu pedaço de pão, mesmo que não possam aumentá-lo ou melhorá-lo. (…) Mas duas catástrofes econômicas fundamentais, nas quais se resume o absurdo crescente do sistema capitalista – o desemprego e a carestia da vida –, exigem palavras de ordem e métodos de luta generalizados.

A IV Internacional declara guerra implacável à política dos capitalistas que é, em grande parte, a de seus agentes – os reformistas –, de tentar fazer que recaia sobre os trabalhadores todo o fardo do militarismo, da crise, da desagregação dos sistemas monetários e de todas as outras catástrofes da agonia capitalista. Reivindica trabalho e existência digna para todos. Nem a inflação monetária nem a estabilização podem servir como palavras de ordem para o proletariado, pois são duas faces de uma mesma moeda. Contra o aumento dos preços, que, à medida que a guerra for se aproximando, vai adquirir um caráter cada vez mais desenfreado, só se pode lutar com a palavra de ordem de escala móvel de salários. Os contratos coletivos devem assegurar o aumento automático dos salários, correlativamente à elevação dos preços dos artigos de consumo. (…) Os proprietários e seus advogados demonstrarão a “impossibilidade de realizar” essas reivindicações. Os pequenos capitalistas, sobretudo aqueles que caminham para a ruína, invocarão, além do mais, seus livros de contabilidade. Os operários rejeitarão categoricamente esses argumentos e essas referências. (…) Trata-se de preservar o proletariado da decomposição, da desmoralização e da ruína. Trata-se da vida e da morte da única classe criadora e progressista e, por isso mesmo, do futuro da humanidade. Se o capitalismo é incapaz de satisfazer às reivindicações que surgem infalivelmente dos males que ele mesmo engendrou, que morra! A “possibilidade” ou “impossibilidade” de realizar as reivindicações é, no caso presente, uma questão de relação de forças que só pode ser resolvida pela luta. (…)”

Maria Silva

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