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sexta-feira, março 29, 2024

Equador: As massas voltam às ruas. Agora contra o banqueiro Lasso

O Equador é um país de grande tradição de lutas. Ao longo dos anos 80 fizeram dez greves gerais. Nos anos 90, na onda privatizadora resistiu bravamente em defesa de suas estatais, mas não resistiu a abertura da economia e a consequente desindustrialização. Por volta do ano de 2.000, em poucos anos, derrubou um vice-presidente e três presidentes. Por isso se diz: Equador terra de vulcões e revoluções.

Por: Cesar Neto

Em 2019 assistimos as gigantescas manifestações. No início da pandemia vimos os corpos serem incinerados nas ruas e na política o fim do governo populista de Correa e a ascensão do governo direitista de Lasso, um banqueiro, que como todo banqueiro tem uma história suja pelos negócios de assalto às riquezas do Estado. Na última quinta-feira começou mais um levantamento indígena e popular.

Antecedentes da Mobilização

Logo após o início do governo do banqueiro Guillermo Lasso, em 21 de maio de 2021, um setor do movimento indígena apresentou uma petição de 10 pontos e começaram a negociar entre eles. Os pontos eram: 1. Redução e basta de aumentos dos combustíveis; 2. Moratória de 1 ano no pagamento de dívidas ao sistema financeiro; 3. Preços justos para os produtos agrícolas; 4. Emprego e direitos trabalhistas; 5. Não a mineração em terras indígenas e em fontes de água; 6. Respeito aos 21 direitos coletivos; 7. Não a privatização dos setores estratégicos; 8. Políticas de controle e contra a especulação dos preços; 9. Orçamento emergencial para saúde e educação; 10. Geração de políticas públicas de segurança e proteção.

Muitos ativistas viram com desconfiança ou diretamente repudiaram essa negociação com um governo de extrema direita. Depois de um ano de negociação, sem nenhuma conquista e pressionados pela base, romperam com o governo e chamaram a mobilização.

As organizações de luta:

A classe trabalhadora sempre teve um papel protagônico no país, porém com o processo de desindustrialização primeiro e depois com o sucateamento e privatização de parte do sistema elétrico e petroleiro, os trabalhadores seguiram politicamente tendo importância, mas perderam peso social. Esse espaço foi paulatinamente ocupado pelo movimento indígena, onde se sobressaiu a CONAIE (Confederação de Nacionalidades Indígenas do Equador). Internamente está dividida em vários setores políticos, sendo o setor mais dinâmico os chamados “mariateguistas” do qual Leonidas Iza (atual presidente da CONAIE) é membro.  Leonidas, preso nas manifestações tinha sido o principal negociador com o governo.

As organizações sindicais estão há muitos anos esvaziadas fruto da desindustrialização e também por conta de uma burocracia completamente traidora. Não aceitam unidade com o movimento indígena para não perder o protagonismo que já não têm. Pressionados pela base marcaram mobilizações para os dias 22 e 23. Com a prisão de Iza, alguns falam em antecipar e se juntar a marcha indígena. “Se eles se juntarem tudo bem, se não se juntarem nós nos juntaremos assim mesmo”, dizia pela TV um irado morador do sul de Quito

13 de junho: o início das manifestações

Na segunda feira começaria mais um período de mobilizações dos indígenas e de agricultores da região Costa (litoral) do país. Como sempre acontece, com algumas interrupções de estrada, manifestações nas pequenas cidades e que poderia ir crescendo ou não. O primeiro dia começou relativamente fraco, mas na madrugada da segunda para terça feira, um esquadrão especial da Policia, prendeu e sequestrou Leonidas Iza e a história mudou.

Na terça feira (14/06) que seria um dia de pequenas mobilizações, a situação se transformou e houve os primeiros enfrentamentos com o aparato repressivo, tomada de cidades, etc.

Cotopaxi que é a região de Leonidas foi tomada pela população que se manifestava em frente ao órgão Judicial. A manifestação ganhou uma enorme participação que colocou a policia para correr do local.

Na região amazônica as estradas foram sendo tomadas e não circulava nada. Na região petroleira do Tena as comunicações com as outras cidades foram totalmente cortadas. Na região de Puyo nem a Policia e nem o Exercito se atreveram a enfrentar-se com a mobilização.

Quarta-feira: o recuo de Lasso

Lasso fez um calculo politico errado ao prender Leonidas Iza pois imaginava que o movimento refluiria, mas aconteceu o contrário na medida que a quarta feira foi de aumento da mobilização e de sua radicalização.

Essa relação entre repressão e resposta que aconteceu no Equador é preciso enquadrá-la nas tendências mundiais nestes tempos de crise imperialista. Se por um lado cresce as organizações de direita, por outro lado, as massas se radicalizam também.

Quinta feira: a mobilização começa a chegar na capital

A quinta feira começou com a expectativa das marchas terem maior incidência nas cidades e em especial em Quito. Na cidade de Cuenca os estudantes da universidade suspenderam as aulas e saíram em uma gigantesca marcha. Na região amazônica mais uma vez os indígenas amazônicos, que são diferentes dos indígenas da serra na medida em que estes estão mais vinculados ao mercado, colocaram o Exercito para correr com suas flechas e lanças!

Em Quito, a capital, começaram a chegar as primeiras marchas indígenas e a população dos bairros pobres saiu à recebe-los. Ao mesmo tempo o mercado central da capital com seus mais de mil vendedores suspendeu a atividade em apoio as manifestações. Em várias cidades menores os comércios fecharam e os transportes pararam de circular.

Os indígenas e o povo pobre lutam. Os dirigentes negociam

A heroica luta do povo equatoriano, nesta e em outras situações, é um exemplo para todos os lutadores latino-americanos. Mas não basta dizer: não. É preciso dizer o quê queremos.

Os 10 pontos que a CONAIE levanta não tem nenhuma consigna contra a o governo do grande capital, não tem nenhuma proposta de governo que o país precisa para enfrentar a violência recolonização do país e suas consequências para os indígenas, para os trabalhadores e o povo pobre.

A primeira tarefa a nosso ver é impulsionar a mobilização. Caso as organizações sindicais se neguem a fazê-lo é preciso denunciá-los ás suas bases.

Em segundo lugar é preciso dizer bem alto: Fora Lasso, os banqueiros e grandes empresários.

E finalmente por um governo dos trabalhadores, dos indígenas e da juventude em luta.

 

 

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