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sexta-feira, março 29, 2024

Chile| A juventude sai às ruas, a repressão continua e Boric se cala

Gabriel Boric assume a presidência do país com expectativas de um importante setor da população, isto – em parte – por ser ex -dirigente estudantil, o presidente mais jovem na história do país, ou também por derrotar Kast nas eleições.

Por: MIT-Chile

Reflexo disso foram as manifestações de celebração quando foi eleito. Inclusive chamou a atenção que, em seu primeiro discurso como presidente parafraseou Salvador Allende, ao dizer que “as grandes alamedas se abrirão por onde caminharão a mulher e o homem livres”, célebre frase que o ex – presidente da Unidade Popular cunhou em 11 de setembro de 1973.Com isto Boric queria dar um sinal, de que seu mandato seria supostamente o governo do povo. Acreditamos que para além de simbolismos isso é respondido nos fatos.

Curiosamente, poucos dias após assumir o mandato presidencial, houve uma série de manifestações por parte da juventude, em particular, estudantes secundaristas e universitários. Aqui a primeira coisa a pensar é: resolverá suas demandas? Reprimirá esses protestos? Queremos expor no presente artigo qual foi a resposta do governo, já que no final das contas é a primeira prova que enfrenta.

“Morrer lutando, de fome nem cagando”

A juventude, as mulheres e as diversidades sexuais foram um dos setores mais atacados durante os últimos anos, com baixos salários, extensas jornadas de trabalho, discriminação aberta de todo o tipo, etc. São também aqueles que – embora – respaldaram eleitoralmente a Frente Ampla e o Partido Comunista nas últimas eleições; hoje foram o primeiro setor que saiu às ruas, e portanto, pressiona o governo a responder.

Assim, na sexta-feira 25 de março passado, foi convocada a primeira marcha do CONFECH (Confederação de Estudantes do Chile), onde a principal demanda foi o aumento da bolsa alimentação (BAES-Bolsa de Alimentação da Educação Superior), já que esta não aumentou nos últimos 10 anos (sendo de 32.000 pesos), o que é impossível para poder se alimentar durante um mês. Aqui um dos cânticos que os estudantes mais gritavam era “morrer lutando, de fome nem cagando”. Esta situação é uma expressão do forte aumento de preços dos produtos básicos para viver, de fato o Chile é o oitavo país da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) com a inflação mais alta.

A esta convocação se somam as demandas de milhares de estudantes contra a violência machista nas instituições educadoras, devido aos inumeráveis casos de assédio e/ou abuso sexual perpetrados por estudantes ou professores, daí a exigência dos estudantes por uma efetiva educação sexual integral (ESI). Também se agrega a demanda do fim do (projeto de lei, ndt.) aula segura, a anulação total do CAE (Crédito com Garantia Estatal), entre outras.

A repressão de Piñera e Boric não é a mesma, mas é igual

Uma das primeiras decisões do governo da Frente Ampla, Partido Comunista e Partido Socialista, foi ratificar Ricardo Yañez, em seu cargo de Diretor Geral dos Carabineiros, que foi nomeado por Sebastián Piñera, ocupa o cargo desde 2020 e é questionado pela violação sistemática dos direitos humanos. Esta grave decisão é um descuido? Tudo indica que não.

Na última marcha convocada pela CONFECH um jovem foi baleado pela polícia, situação que inclusive foi notícia em outros países. Não é um caso isolado, já que o atual governo continuou usando os típicos “zorrillos” e “guanacos” que Piñera comprou para reprimir as marchas estudantis. A mesma situação repressiva se repete na Plaza Dignidad com os manifestantes que vão exigir a liberdade aos presos políticos.

A isto se somam os operativos policialescos militares executados em uma nova comemoração do Dia do Jovem Combatente em 29 de março, data em que recordamos o assassinato, durante a ditadura por parte da Dipolcar de carabineiros, dos irmãos Rafael e Eduardo Vergara Toledo, da jovem mirista Paulina Aguirre, e dos 3 professores comunistas do chamado “caso degolados”. O pior de tudo isto foi a reação da Ministra do Interior Izkia Siches, que deu um enorme reconhecimento à repressão dos carabineiros, ela mesma antecipava aquele dia anunciando “reiterar o respaldo do nosso Governo a cada uma das funções dos carabineiros”. Imagine ser ministra de um governo que se diz de esquerda e do povo, que em uma data tão delicada como esta, quando se comemora jovens assassinados pela ditadura, sair publicamente promovendo e respaldando a repressão contra os jovens…uma vergonha total.

A continuação em torno da política repressiva contra a juventude e aqueles que protestam para melhorar suas condições de vida é só o começo. Embora seja utilizada para “setores minoritários” que se mantêm nas ruas, continua sendo concreta e parece que não vai parar nem sequer com a chamada “reforma dos carabineiros” que o presidente Boric quer promover. Pior ainda, esta repressão é apenas uma amostra de como o governo responderá às futuras mobilizações e greves desenvolvidas por estudantes, trabalhadores, povos originários, entre outros.

A juventude marca o caminho

Evidentemente, um Piñera é muito diferente de um Boric, entretanto, repressão é repressão. A dinâmica dos últimos anos no país tem sido de fortes mobilizações pelo fato de que o povo já não suporta as atuais condições de vida a que somos empurrados para sobreviver. O contínuo aumento dos preços da alimentação, gás e gasolina, o aumento da inflação, somados à estagnação dos salários. Deixa como provável que em um futuro próximo ocorram mobilizações, sejam isoladas, setoriais ou nacionais. Se reprime menores de idade, como o governo responderá às futuras mobilizações?

A juventude mostra o caminho a continuar, a melhoria das nossas condições de vida não se dará por si só, devemos nos organizar de forma independente do atual governo e exigir o cumprimento de nossas demandas. Devemos unificar as diferentes lutas, é uma necessidade avançar para um congresso nacional estudantil e da juventude, para colocar nossas demandas sobre a mesa e estabelecer um plano de luta em comum, já que juntos atacamos com maior força.

As situações de assédio e abuso sexuais, os elevados custos da alimentação e do custo de vida não só são expressões do modelo educacional, mas são expressões da crise do sistema capitalista no qual vivemos. Há alguns poucos empresários que concentram em suas mãos a maior parte da riqueza do país, como é o caso de Iris Fontbona (a matriarca da multimilionária família Luksic) que é a nona mulher mais rica do mundo. Isto deixa evidente que devemos lutar para mudar esta sociedade a partir da base. Por esse motivo é que nos organizamos no Movimento Internacional dos Trabalhadores (MIT), com o objetivo de construir uma alternativa política da juventude e da classe trabalhadora, que tenha como horizonte a luta pela revolução socialista, ou seja, o caminho que nos leve para a tomada do poder político e econômico. Só assim decidiremos o que fazer com a riqueza do país e poderemos utilizá-la para resolver nossas demandas.

Tradução: Lilian Enck

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