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sexta-feira, março 29, 2024

Greve Geral: sim, mas como?

A principal confederação sindical italiana, a CGIL (5 milhões de filiados) decidiu há poucos dias convocar uma greve geral para o dia 16 de dezembro. Foi anulada, então, a greve do dia 10 de dezembro dos metalúrgicos da FIOM que ocorrerá agora junto com o dia de luta em 16 de dezembro. A CISL, o segundo maior sindicato em número de filiados, decidiu ao contrário não participar: seu secretário geral Sbarra definiu a convocação da greve como uma decisão “errada, exasperada e distorcida’ (sic!): palavras que falam por si mesmas.

Declaração do Comitê Central do PdAC

Uma convocação nada óbvia

A greve do dia 16 de dezembro é uma greve convocada às pressas, sem a preparação adequada que seria necessária e que, sobretudo, excluirá muitos setores da classe trabalhadora: além da educação (que manteve a greve de 10 de dezembro) e da saúde, provavelmente – sob exigência da Comissão de Garantia dos grevistas – serão excluídos também os transportes, os correios, a limpeza, alguns setores dos serviços públicos. Por hora, o sindicalismo de base não se pronunciou a respeito da greve: é provável que apenas alguns setores decidam convocá-la no mesmo dia, enquanto outros optarão por uma postura sectária.

Iniciemos destacando os aspectos positivos dessa convocação. Antes de tudo, não foi de todo precipitada. Desde que as direções da CGIL e da UIL não decidam desmontá-la em troca de qualquer esmola por parte do governo – hipótese que não se pode excluir – fica evidente que fizeram de tudo para evitar essa convocação. Há meses está em curso uma campanha, animada por uma realidade mais combativa no país, para chamar em alto e bom som a convocação da “greve geral e generalizada” para se opor aos ataques do governo Draghi e dos patrões. Por meses os chamados permaneceram ignorados, ainda que, sobretudo na base da CGIL, a pressão pela greve tenha começado a crescer e a difundir-se a partir dos metalúrgicos: a FIOM já havia de fato decidido convocar uma jornada de greves nacionais em 10 de dezembro com manifestações regionais (greve que foi adiada para se juntarem ao dia 16 de dezembro).

Se até hoje Landini evitou cuidadosamente colocar a greve geral na ordem do dia, o motivo fica rapidamente evidente: a burocracia da CGIL, pelos seus vínculos com setores do PD (Partido Democrático) e da esquerda (LEU – Livres e Iguais), que apoiam o governo, não tiveram nenhuma intenção de se levantarem contra o “governo amigo”. Pouco importa que esse governo esteja, há meses, desferindo ataques pesadíssimos contra os trabalhadores: da permissão às demissões (não por acaso com o aval da CGIL, da CISL e da UIL) ao afrouxamento das medidas de segurança nos locais de trabalho (com o pretexto do green pass).

Na realidade, o nível do confronto foi elevado pelo próprio Draghi que, anunciando uma nova redução nas aposentadorias, decidiu deixar a mesa com os sindicatos confederados (entre outras coisas, mais do que condescendendes com uma revisão de cota 100). Desse modo, então, a necessidade de reagir se tornou obrigatória. Mas como se convoca uma greve geral digna desse nome?

Ação incisiva ou arma sem balas?

O que aconteceu em outros países nos últimos anos – da França à Catalunha e ao Brasil – demonstra que, para construir uma ação de luta incisiva contra os ataques dos governos, é necessário construir a greve geral com uma preparação adequada. A greve geral, na Itália, estava na ordem do dia há meses, preparada nos locais de trabalho com assembleias, reuniões, chamados à unidade e à mobilização. Não basta marcar uma data no calendário no último minuto e, voilà, a greve geral está feita. Os trabalhadores, na Itália, sofreram anos de humilhações e ataques violentos. Além disso suas direções – sindicais e políticas – ao chamá-los à luta os convenceu, frequentemente, da necessidade de resignar-se: os interesses burocráticos e o apoio aos governos Conte e Draghi foram sempre mais importantes do que os interesses dos proletários (inclusive pela sua necessidade de sobreviver, se pensar nos protocolos de segurança, uma farsa perigosa).

Depois que os aparatos sindicais explicaram por meses que “fazer greve não adianta nada”, desabituando os trabalhadores da luta, ora chamando-os a mobilizar-se… de uma semana para a outra! Chamar a greve geral desse modo, entre outras coisas às vésperas das festas de final de ano, se arrisca a ser uma arma sem balas. E provavelmente, é exatamente esse o objetivo das burocracias sindicais da CGIL e da UIL: transformar o dia 16 de dezembro em uma inócua passeata romana, talvez entre o flocos de neve, para justificar, ainda uma vez, a enésima capitulação ao governo burguês.

É ainda improvável que os secretários da CGIL e da UIL não soubessem que as leis anti-greve – por sua própria reivindicação – teriam impedido muitos setores chamados “essenciais” de fazerem a greve: a intenção das burocracias é o de enfraquecer ao máximo a luta do dia 16 de dezembro. As declarações do próprio Landini, de resto, parecem mesmo andar nesse sentido: “por aquilo que nos toca, o diálogo não se interrompeu, pode-se voltar a dialogar em qualquer momento”. Algo como preparar-se para uma batalha assegurando ao inimigo de que não se pretende causar-lhe nenhum dano. No entanto, paradoxalmente é uma tentativa, por parte do secretário geral da CGIL, de apresentar Draghi como um premier “sensível às demandas sindicais” mas refém da própria maioria que o constringe a aumentar o confronto “contra a sua vontade”.

Além disso, é vergonhosa a capitulação das direções da CGIL e da UIL às imposições da Comissão de Garantia dos grevistas: se quisessem, CGIL e UIL (que organizam milhões de trabalhadores e tiveram orçamentos milionários) teriam força para ignorar essas imposições e convocar a greve mesmo nos setores submetidos às leis anti-greve (cobrindo economicamente eventuais multas que chegassem aos trabalhadores). Junte-se a isso que a mesma exclusão da saúde da greve – o setor que mais tem sofrido e que mais do que outros tinham necessidade de fazer greve para se opor ao desastre em curso – nos dá noção de como as direções sindicais querem dar ao governo garantias de “responsabilidade”.
Um possível ponto de partida?

Se a greve geral pela metade deve ser mantida, são dois possíveis cenários que se abrem. O pior é que esse dia de luta se transforme em uma ação meramente demonstrativa, totalmente controlada pelas direções sindicais que pretendem levá-las a um novo acordo com o governo patronal. Mas há ainda a possibilidade de que essa greve se transforme no início de uma ação prolongada de luta. Tudo dependerá da capacidade que a realidade operária nas fábricas mais combativas terá para ir além das intenções das suas direções sindicais. As greves operárias de março de 2020 – assim como as mais importantes páginas da história do movimento operário na Itália – demonstram que isso é possível.

Com essa finalidade, seria importante que, apesar de todos os limites burocráticos da greve, mesmo os sindicatos de base e de luta, além de limitar-se a fazer a crítica (justa) às formas de convocação, decidissem cruzar os braços no mesmo dia com uma plataforma alternativa, procurando dar a esse dia de luta um sentido diferente, isto é, de luta e enfrentamento. É isso que fazem os sindicatos de base de outros países – da Solidaires na França à CSP-Conlutas no Brasil – que, atacando as direções sindicais de colaboração de classe, não abandonam as ruas e as greves convocadas pelos sindicatos burocráticos para construir uma ação unitária com a base de todos os sindicatos e elevar o nível do confronto de classes.

A Alternativa Comunista não faz concessões às burocracias da CGIL e da UIL (nem mesmo àquela da CISL): as consideramos cúmplices do massacre em curso e convidamos os trabalhadores e trabalhadoras a não depositar nelas nenhuma confiança. A mesma plataforma da greve, absolutamente inadequada, confirma o papel nefasto que esses aparatos assumiram. Mas o dia 16 de dezembro estaremos em greve e nas ruas ao lado dos trabalhadores que cruzarão os braços: nos esforçaremos para que a greve se torne o início de uma ação prolongada que chegue a derrubar o governo Draghi e para colocar na ordem do dia a construção de um governo dos trabalhadores que exproprie as fábricas que fecham e demitem, aumentos no valor das aposentadorias abaixando a idade para se aposentar, que dê finalmente dignidade e segurança ao trabalho.

Tradução: Nívia Leão.

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