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sexta-feira, março 29, 2024

Uruguai| Lutas, governo e direção revolucionária

Está chegando ao fim de um ano muito difícil para os trabalhadores e setores populares. No Uruguai, a pandemia significou mortes e contágios evitáveis produto da política da “nova normalidade”. Além disso, transtornou a vida quotidiana dos trabalhadores e trabalhadoras.

Por: IST – Uruguai

O confinamento e o isolamento provocaram uma maior violência contra as mulheres em suas casas, incerteza nos trabalhadores informais e 100 mil pessoas foram empurradas para a miséria, denominada como os novos pobres. A classe operária sofreu demissões, redução de salários e flexibilização trabalhista, pois os patrões com o aval deste governo dos donos do Uruguai aproveitaram a oportunidade para aplicar os ajustes.

Nessas condições que os trabalhadores e setores populares “saem” da pandemia: com mais pobreza, menos trabalho, menos salário, cortes e aumento das tarifas e do custo de vida. São as mesmas sequelas, à maneira e ao ritmo uruguaio, que ocorreram em todo o mundo produto deste sistema capitalista e de seus governos que colocam sobre nossos ombros o peso da crise.

Nesse cenário, os trabalhadores realizaram várias e importantes lutas durante o ano. Na educação pública contra os cortes e as sanções aos docentes, na fábrica da UPM2 (celulose), nos órgãos do Estado como ANCAP[1], UTE[2] ou OSE[3], na pesca, na indústria frigorífica, com o duro conflito dos operários/as da SOOFRICA (frigorífico). E como pano de fundo a paralisação por dias no porto de Montevidéu. Essas lutas foram à base para a última Greve Geral em setembro, como resultado do descontentamento em massa entre os trabalhadores.

A isso se acrescenta a importante luta pelos direitos humanos que, no dia 20 de maio, se fez sentir em todo o país e a coleta de assinaturas contra a Lei de Urgente Consideração (LUC) [4] que – assumida e organizada a partir das bases -, acabou desferindo um primeiro golpe no governo multicolorido[5].

O produto desse golpe é que agora esse governo antioperário, fazendo cálculos para tentar evitar uma derrota no referendo, adia os reajustes dos combustíveis e está adiantando ou passando mais gradualmente a contrarreforma da previdência social e, vários ajustes que querem continuar nos aplicando.

Foi a luta, a organização e a iniciativa dos de baixo que travou o governo, por isso ainda não avançou totalmente. Isso demonstra duas coisas importantes. Uma, que o governo não é invencível, pelo contrário, podemos fazê-lo e obter vitórias ainda que parciais. E dois, que o caminho para isso tem provado ser a luta e a organização dos de baixo, como demonstraram as bases. Essa é a principal lição que devemos incorporar.

Se não se avançou mais na luta contra o governo, é porque, lamentavelmente, a direção majoritária do PIT-CNT (Central Sindical) não unificou todos os conflitos e reivindicações em uma única grande luta com um plano de luta, mas se limitou a uma ou outra greve isolada. Os dirigentes da Frente Ampla também não se interessaram pela luta, pois estão mais preocupados com as negociações parlamentares e já disputam os cargos para as eleições de 2024. No fundo, apesar de seus discursos, esses dirigentes não querem enfrentar de forma cabal este governo de direita e muito menos o sistema capitalista.

E se há algo que a pandemia desnudou no Uruguai e em todo o planeta, é que esse sistema podre, preocupado apenas com o lucro de alguns bilionários, não dá mais; não pode ser reformado, nem melhorado.

É por isso que nós – os trabalhadores e os setores populares – temos o desafio de construir uma nova direção política. Uma direção operária, dos explorados e exploradas, que não especule com cálculos eleitorais nem com cargos bem remunerados nos Ministérios e no Parlamento.

Uma direção que queira realmente enfrentar o governo de maneira consequente, impulsionando a luta, a organização dos de baixo e a unificação de todas as lutas.

Uma direção que sirva aos explorados e oprimidos, e que proponha uma saída revolucionária ao capitalismo: a construção do socialismo, onde os trabalhadores e setores populares governem com seus próprios organismos.

Nós da Esquerda Socialista dos Trabalhadores e da LIT-QI, convidamos vocês a se somar a nós e começar a trabalhar nesta tarefa, construindo a direção revolucionária que precisamos no calor das duras lutas que certamente nos aguardam os/as trabalhadores sob este governo e o capitalismo decadente.

Editorial publicado no Jornal Rebelión (Novembro-Dezembro) nº 75 da IST (Esquerda Socialista dos Trabalhadores. Uruguai)

Notas:

[1] ANCAP – Empresa estatal integrada de energia, líder no mercado uruguaio de combustíveis e lubrificantes, cimento Portland e no desenvolvimento de biocombustíveis, ndt;

[2] Administração Nacional de Usinas e Transmissão Elétrica (UTE) é uma empresa pública de geração, transmissão, distribuição e comercialização de energia elétrica, ndt;

[3] Obras Sanitárias do Estado (OSE) é o órgão estadual responsável pelo abastecimento de água potável em todo o Leste da República do Uruguai, e pelo serviço de saneamento no interior do país, ndt;

[4] LUC – Pacote legislativo que contem 475 artigos incluindo flexibilização da legitima defesa policial, regulamentação do direito de greve, entre outros, ndt;

[5] Coalizão multicolorida – composição de cinco partidos, encabeçada por Lacalle Pou (Partido Nacional, Partido Colorado, Cabildo Abierto, Partido Independente e o Partido do Povo), ndt;

Tradução: Rosangela Botelho

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