qui mar 28, 2024
quinta-feira, março 28, 2024

EUA| Trabalhadores fazem greve de duas semanas na fábrica SSP da Senior Aerospace na área de Los Angeles

Depois de uma greve de duas semanas caracterizada por uma firme solidariedade, mais de 300 trabalhadores da fábrica aeroespacial que pertencem à UAW Local 509 votaram em aceitar um novo acordo sindical de três anos e voltaram ao trabalho em 6 de outubro na planta da Senior Aerospace SSP em Burbank, na Califórnia, na área de Los Angeles.

Por:  Edgar Reyes

A greve foi motivada pelas tentativas da empresa em obrigar os trabalhadores a aceitarem concessões importantes, inclusive aumentos importantes no custo do atendimento médico. As ofertas de contratos iniciais da empresa também incluíam minúsculos aumentos salariais. Além disso, muitos trabalhadores na linha de piquete denunciaram o sistema punitivo e abusivo de assistência e de pontuação da companhia, assim como a questão das horas extras obrigatórias. A greve começou em 22 de setembro.

Durante as negociações do contrato, a empresa afirmou que estava atravessando dificuldades econômicas e precisava que os trabalhadores aceitassem fazer concessões. Os trabalhadores viram isto como uma farsa, já que a maioria dos empregados na planta trabalharam grande quantidade de horas extras ultimamente para manter em dia o aumento dos pedidos de produção. Nos últimos meses, os trabalhadores trabalharam regularmente seis dias da semana, e às vezes até sete dias da semana, para satisfazer as demandas da produção.

Os trabalhadores da planta fabricam peças para a indústria aeroespacial, comercial e de defesa. Entre outras peças produzidas na planta, os trabalhadores fabricam condutos internos que são utilizados como componentes em certos tipos de aviões militares.

A planta SSP da Senior Aerospace em Burbank é propriedade da Senior, uma empresa multinacional com sede no Reino Unido .  Segundo seu  site web , a Senior opera cerca de 30 empresas em 13 países. Além de projetar e produzir equipamentos e peças para a indústria aeroespacial e de defesa, a empresa também fabrica peças utilizadas na produção de veículos e para a indústria de força e energia.

A natureza do processo de produção na planta de Burbank requer uma força de trabalho altamente qualificada e especializada, que inclui muitos soldadores, operadores de tornos CNC e outros operadores de máquinas. Como resultado, durante a greve, os trabalhadores estavam muito cientes do fato de que seria quase impossível para a empresa substituir um número significativo de grevistas com suplentes. De fato, durante a greve, a empresa nunca tentou trazer trabalhadores substitutos. O mais inspirador de tudo é que os trabalhadores na linha de piquete observaram que, segundo seu conhecimento, nem um só membro da unidade de negociação cruzou a linha de piquete.

Esta dinâmica converteu a greve na planta em uma espécie de jogo de espera. Finalmente, a empresa viu-se obrigada a fechar um acordo, que os trabalhadores consideraram aceitável, com o sindicato.

Durante sua duração, a greve se caracterizou por um sentido de unidade e uma forte confiança coletiva por parte dos grevistas. Os trabalhadores protestaram contra a planta os sete dias da semana, desde muito cedo, na manhã, até às 21:00. Durante duas visitas durante a semana à linha de piquete em fins de setembro, houve mais de uma centena de trabalhadores fazendo piquetes de solidariedade na rua em frente à planta em greve. O sindicato instalou uma churrasqueira na calçada que dá entrada à oficina principal da planta, e os trabalhadores cozinharam salsichas, hamburguers e “quesadillas”(comida mexicana) para comer.

Para os trabalhadores, um dos pontos culminantes da paralisação foi na sexta, 1º de outubro, quando os grevistas receberam uma banda “norteña” que tocou no piquete em frente à planta paralisada. (O “norteño” é um gênero popular de música mexicana que é muito querido pela classe trabalhadora, desproporcionalmente emigrante, de Los Angeles). Os trabalhadores permaneceram na linha de piquete naquela noite até por volta das 23:30, depois de quase duas semanas de greve, a moral entre os grevistas se manteve alto e os trabalhadores não tinham intenção de renunciar à sua luta.

Um aspecto decepcionante desta luta foi o fracasso da imprensa local na área de Los Angeles – e nesse caso, da esquerda local – para fazer alguma cobertura na mídia sobre a greve. Como escreveu o jornalista trabalhista Jonah Furman em seu semanário Who Gets the Bird? na coluna de cobertura de greve, a greve recebeu “ cobertura zero da imprensa…apesar de ser uma grande ação industrial em uma grande área metropolitana”. Portanto, a luta na planta Senior Aerospace SSP fala da necessidade de expandir a imprensa socialista e trabalhista e construir redes de solidariedade de greve, para que os trabalhadores, inclusive os trabalhadores industriais como os grevistas da UAW Local 509 mn Burbank, tenham uma base sólida de apoio quando entrarem em luta no futuro na área de Los Angeles e em outros lugares.

A última greve na planta de Burbank aconteceu há 45 anos em 1976. Segundo um relatório sobre essa luta publicado no Los Angeles Times , a greve de 1976, no que era então  conhecido como SSP Industries, durou  13 semanas e terminou em julho depois dos membros da UAW Local 1047 aprovarem um novo acordo de três anos com a empresa. Segundo um porta voz sindical anônimo mencionado no resumo da notícia, o acordo previa “melhores salários e benefícios adicionais”.

Recorte do jornal com a cobertura da greve de 1976 Tradução: “Uma greve de 13 semanas contra a SSP Indústrias de Burbank terminou depois que os membros da United Auto Workers Local 1047 aprovou um novo acordo. Um porta voz do sindicato disse que mais de 700 trabalhadores retornarão ao trabalho imediatamente na planta, que faz subcontratação aeroespacial e de defesa. O novo acordo de três anos prevê melhores salários e benefícios adicionais, disse o porta voz.”Los Angeles Times, 29 de Julho de 1976, p.C2.

Como foi o caso historicamente, Los Angeles ainda abriga uma grande concentração de trabalhadores na indústria de fabricação aeroespacial. Os trabalhadores deste setor ocupam um gargalho crítico não apenas no processo de acumulação capitalista de lucros, mas também em uma indústria que funciona para manter o injusto e odioso sistema de opressão e dominação imperialista estadunidense.

Tradução: Lilian Enck

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