sex mar 29, 2024
sexta-feira, março 29, 2024

Vale bem mais que nossas vidas?

“Estão acabando com nossa tão pura e preciosa água, que já nem sei se posso dizer pura. Vamos colocar um basta nisso já pessoal, deixar um pouquinho essas ganâncias nossas de lado e passar a zelar mais por nossa natureza. Nossos filhos e netos já estão vindo por aí e também vão desfrutar de tudo isso um dia. Agora, cabe a nós ou não cuidar dela. Pensem bem nisso, eles só querem acabar com o pouco que ainda temos e, depois, é adeus Maria. Isso que eu vou fazer é pelas mais de 200 pessoas inocentes, crianças, que eu creio que eles nunca vão pagar“.

Por: Geraldo Batata, de Contagem (MG) – Brasil
A fala do jovem que, logo em seguida, justiçou com alguns socos o gerente da Vale numa audiência pública em Catas Altas, expressam a raiva da população mineira contra os crimes da Vale. Ele passou a ser procurado pela polícia, podendo responder por um crime, ser preso, depor frente a um delegado, um juiz,…. toda uma burocracia do Estado que, assim como Zema e Bolsonaro, estão a serviço de uma empresa assassina, que dizimou centenas de vidas de operários e operárias, de animais, que destruiu rios.
Uma empresa que colocou refém de suas barragens e sirenes milhares de famílias na rota da “lama invisível”, que expropriou casas, distritos, pequenas propriedades para ampliar sua área de mineração. Mas, além disso, colocam sob o medo da falta de água 3,5 milhões de pessoas na Grande Belo Horizonte.
Mas o que nos deixa mais indignados é que frente aos assassinatos de nossos irmãos e irmãs, é saber que os acionistas da Vale receberão R$ 7,25 bilhões em juros de capital próprio. Esse valor é o triplo a ser pago em indenizações às vítimas de Brumadinho. Ou seja, a Vale lucrou bastante com seus crimes. Lucrou com crime da Samarco. Lucra com o massacre de Brumadinho. Lucra com o terror sobre milhões de pessoas.
Sem estatizar a empresa e mantendo a impunidade dos dirigentes novos crimes estão no horizonte. Para enfrentar a Vale e o Estado capitalista é preciso, além da raiva e indignação, buscar a organização coletiva. E, claro, somos totalmente contra a punição ao corajoso jovem de Catas Altas.

Homenagem às vítimas de Brumadinho na entrada da cidade

Quem manda de verdade
Nesse momento nenhum executivo da Vale está preso. Nem o sinistro Sr. Shvartzman, que comemorou o aumento das ações da Vale após um mês somente do crimes em Brumadinho, nem os responsáveis do crime em Mariana, foram punidos. Seguem muito bem remunerados pela empresa ou pelo “mercado”, em suas mansões e suas contas milionárias. Nenhum deles está preso por seus crimes.
Essa situação de permanente decadência sobrevive porque está de acordo com os projetos de submissão da burguesia nacional frente ao imperialismo. Primarizar a economia significa destruir a Amazônia para fazer pasto para gado e áreas de plantio de soja. Mas também acabar com reservas dos povos indígenas para explorar madeira e mineração. Ou seja, destruir o meio-ambiente para mandar o lucro pra fora. Para aplicar esse projeto as grandes empresas e os banqueiros colocam à frente do Estado governantes como Zema e Bolsonaro, deputados, senadores, prefeitos, juízes…
Depois de CPI´s (Comissões Parlamentares de Inquérito), inquéritos da PF, de vários órgãos do Estado, os executivos da Vale seguem agindo como sempre, e sendo premiados por isso. De fundo nenhuma instituição do Estado tem coragem de enfrentar a Vale e as mineradoras, nenhuma delas…
Delegação da CSP-Conlutas visitou Brumadinho e participou de assembleias com trabalhadores da mineração na região

Estatizar as mineradoras
É uma vergonha uma empresa como a Vale agir dessa forma. É a demonstração da verdadeira decomposição e decadência do capitalismo no país. Enquanto avança a primarização e desnacionalização da economia a indústria nacional é deixada de lado.
O lucro e o minério vão pra fora e aqui ficam barragens, buracos, destruição do meio-ambiente e falta de água. É necessário e urgente a estatização da Vale e toda a mineração, sob o controle dos trabalhadores e das comunidades. Usar os recursos produzidos de maneira sustentável para reconstruir as regiões atingidas pela lama, revitalizar os rios e ecossistemas, a água, e garantir o desenvolvimento de setores industriais de alta tecnologia.
Mas para isso é preciso construir um grande processo de mobilização dos operários e operárias das mineradoras junto com a classe trabalhadora de toda grande BH. É preciso impulsionar comitês de luta em defesa da água e contra a ampliação da mineração nas serras do Gandarela e Moeda. Comitês que lutem pela estatização da Vale e das mineradoras sob o controle dos trabalhadores e das comunidades.
Nesse momento, todos somos atingidos pela Vale e a ganância dos banqueiros e executivos. Existe sim, esperança, e ela reside na força e capacidade de organização coletiva dos atingidos e da classe trabalhadora.
 

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