qui mar 28, 2024
quinta-feira, março 28, 2024

Argentina: Impor um plano de lutas até derrubar Macri e o FMI

Depois de reunir-se com o FMI, a CGT finalmente convocou uma Greve Geral para a próxima quarta-feira 29 de maio. A derrota do Cambiemos, as divisões internas da Central e a insatisfação que existe na base operária, obrigaram a cúpula da CGT a dar um giro político e se descolar. Em acordo com o Fundo, se preparam para cumprir seu papel de garantir o ajuste para quem seja vencedor nas próximas eleições. Está claro que não podemos confiar em nessa condução. Nós trabalhadores não podemos esperar até outubro, cada dia que passa são milhares de postos de trabalho perdidos, mais inflação, mais repressão e menos salário. É preciso parar o país no dia 29 de maio, exigir que seja uma greve ativa, e arrancar um plano de luta para tirar imediatamente Macri e o FMI, apresentando um plano operário e popular de emergência com medidas concretas para que não fiquemos refém de qualquer projeto patronal e de ajustes. 

Por: PSTU-Argentina

O governo e Cambiemos estão à deriva

Cambiemos chegou à sua nona derrota eleitoral somente neste ano, desta vez em Córdoba, a segunda província mais importante do país. Não é pouca coisa se considerarmos que em 2015 Macri ganhou com 70% dos votos no segundo turno contra Scioli.

Na tentativa de subir nas pesquisas, o governo chegou ao ridículo de apresentar como uma vitória a inflação de abril, que foi de 3,4% segundo o Indec, somente porque foi mais baixa que os 4,7% de março[1]. Isso serviu muito pouco ao governo frente à onda de demissões e suspensões que não param (Alijor, Ford, Loma Negra, etc.)

Cada vez fica mais evidente os casos de espionagem, desta vez confirmada pela empresa Movistar[2] a comunicação entre os telefones de Patricia Bullrich e D’Alessio. A desculpa dada pela Ministra de Segurança de que seu neto utiliza esse telefone para jogar, beira o absurdo.

A crise no bloco de Cambiemos é explícita[3]. Existe um fogo cruzado entre Carrió, o Ministro Frigerio, e o chefe de gabinete Marcos Peña. A imprensa e vários setores querem tirar Macri do caminho e impor Vidal para com isso ter alguma chance de amortizar o impacto. A UCR atravessa uma grande crise[4], com debates políticos, fará uma nova conferência para decidir que fazer. Já explodiu o radicalismo cordobes, onde foram divididos e perderam um capital acumulado de 46 anos.

Cristina Kirchner será candidata a vice-presidente[5] de Alberto Fernández

Cristina moveu as peças do tabuleiro político e anunciou que vai ser candidata a vice-presidente. Depois da sua apresentação na Feira do Livro e de tirar uma foto com a cúpula do PJ (Partido Justicialista), ela mesma apresentou seu companheiro de chapa e candidato a presidente Alberto Fernández.

Para além das especulações sobre os conchavos eleitorais, onde estão tramando uma aliança com Sérgio Massa[6] e sua tropa, a candidatura de Alberto escolhido por Cristina é uma clara mensagem para o FMI e os mercados, em consonância com o novo “acordo” de ajuste para pagar a dívida que virá depois das eleições.

Por outro lado, Juan Schiaretti tenta fazer com que o seu triunfo nas eleições em Córdoba[7] tenha peso para liderar o grupo da Alternativa Federal. Mas ainda não conseguiram chegar a um acordo de quem seriam os candidatos e se realizarão prévias ou não. Lavagna, Pichetto, Massa, Urtubey, Tinelli[8]  está negociando se farão uma reunião de cúpula nos próximos dias.

Dia 28 todas e todos ao Congresso pelo direito ao aborto seguro, legal e gratuito

Apesar das direções kirchneristas e de Cambiemos, no dia 28 está convocada uma nova mobilização no Congresso em defesa do direito ao aborto legal, seguro e gratuito. É preciso organizar nas bases e passar por cima daqueles que priorizam as especulações eleitorais frente às nossas reivindicações, como disse o próprio Alberto Fernández, quando declarou que não temos que ter pressa em avançar com a legalização desse direito.

Não podemos confiar no parlamento e em seus tempos. O caminho é seguir com a radicalização das ações, ocupação de escolas e empresas, multiplicar os pañelazos (manifestações com os lenços verdes) e todas as ações para construir a Greve Geral que consiga impor esse direito.

Por outro lado, já estão sendo preparadas as mobilizações do próximo 3J, contra a violência machista, em meio a um cenário de ajuste que recorta as poucas conquistas alcançadas, como a aposentadoria das donas-de-casa, que, pese que ainda que seja insuficiente, o trabalho feminino não remunerado era reconhecido.

Não se trata de lutas separadas. Muito menos um problema apenas das companheiras. Esse é um tema que deve ser abraçado pelo conjunto da classe operária. Por isso, as centrais sindicais devem incorporar essa pauta e colocá-la como parte do programa da Greve do dia 29 e do conjunto das demandas em todos os sindicatos e movimentos sociais.

29M: Assembleias e coordenação para uma greve ativa

A CGT chama uma greve isolada, sem a participação das bases e sem nenhuma continuidade. A Frente Sindical também baixou o tom e até o momento somente convocou as ollas populares (refeições populares e coletivas) para esse dia, sem nenhuma ação centralizada. Estão mais preocupados com o debate eleitoral do que apresentar as reivindicações e problemas dos trabalhadores e trabalhadoras.

Isso tem que acabar. Temos que nos organizar em fábricas, escolas e universidades para fazer com que seja um dia de lutas nas ruas e obrigar a burocracia a mobilizar-se por nossos direitos. Temos que coordenar ações em vários pontos do país como foi feito no 30A em Puente la Noria[9], como os condutores de Rosário que se organizaram para defender seus postos de trabalho apesar da direção da UTA.

Além disso, não conquistamos nossas demandas somente lutando, devemos impor um programa político para que não sejamos arrastados pelos planos da patronal. Não podemos alimentar novas frustrações. O debate é concreto: é a dívida ou a nossa vida. Ou pagamos os milhões de dólares para os agiotas ou usamos tudo para dar trabalho, saúde, moradia, educação, combater a violência contra as mulheres, e os jovens, etc. Não existe saída para a classe trabalhadora que não comece pelo NÃO pagamento da dívida. Nossas famílias estão em primeiro lugar frente aos lucros. Em todas as assembleias e piquetes é preciso defender esse ponto e por um plano de emergência operário e popular.

Ao mesmo tempo, é necessário libertar os presos políticos da classe operária e do movimento popular. Precisamos derrotar a repressão. Essa Greve deve pedir a liberdade de Daniel Ruiz, Milagro Sala e todos/as os/as presos/as por lutar.

Quem é Alberto Fernandez?

Alberto Fernández  é conhecido por ter sido o Chefe de Gabinete de Néstor Kirchner durante seu mandato como presidente. Também ocupou esse cargo no início do primeiro governo de Cristina. Mas na realidade pouco se sabe sobre ele. Porque o brilhante candidato a presidente é um velho articulador político que há muitos anos circula pelos corredores do poder.

Foi funcionário de Carlos Menem[10], onde exerceu o cargo de Superintendente da Seguros da Nação. Foi eleito deputado por Buenos Aires como candidato de Domingo Cavallo[11] em 2000.

Com essa função, foi o grande operador que costurou a aliança com Duhalde que permitiu ao kirchnerismo o acesso ao poder. No seu livro “Politicamente Incorreto” reconhece ter sido o autor que teceu a aliança com o Grupo Clarín que blindou de apoio a Néstor no início do seu mandato.

Depois de renunciar após o conflito com a patronal agrária em 2008, Alberto Fernández se distanciou do kirchnerismo e em 2013 entrou para a Frente Renovadora, sendo um dos principais impulsionadores e convertendo-se no coordenador de campanha à presidência de Sérgio Massa. Em 2017 também foi coordenador da campanha de Florencio Randazzo. É de conhecimento de todos que no peronismo não existem muitos problemas com mudar de time, e que os espaços que ele ajudou a formar, foram imprescindíveis para aprovar as leis de ajustes no Congresso (pagamento aos especuladores, reforma da previdência, acordo com o FMI, orçamento para os cortes sociais, etc) .

Mas talvez a melhor definição sobre quem é Alberto Férnandez, veio de Guillermo Moreno, ícone do governo de Cristina e com reconhecida trajetória no peronismo, que o sentenciou como um “neoliberal” com justa razão. Está evidente que “o Alberto” é um histórico homem de confiança das corporações e do poder.

 

[1] https://www.lanacion.com.ar/economia/inflacion-marzo-indec-nid2238909

[2] https://www.politicargentina.com/notas/201905/29151-escandalo-movistar-confirmo-que-dalessio-conversaba-con-patricia-bullrich.html

[3] https://www.lanacion.com.ar/politica/la-crisis-atraviesa-cambiemos-nid2227699

[4] https://www.pagina12.com.ar/184788-una-cumbre-con-la-ucr-para-salvar-cambiemos

[5] https://brasil.elpais.com/brasil/2019/05/18/internacional/1558185248_475857.html

[6] https://www.pagina12.com.ar/194728-la-reaccion-de-sergio-massa-frente-al-anuncio-de-cristina-ki

[7] https://www.lanacion.com.ar/politica/elecciones-cordoba-2019-nid2247008

[8] https://www.msn.com/es-ar/noticias/argentina/las-dos-dudas-clave-en-alternativa-federal-%C2%BFscioli-mata-lavagna-%C2%BFtinelli-mata-gobernadores/ar-AABNKY4

[9] http://www.resumenlatinoamericano.org/2019/04/30/argentina-paro-nacional-30a-amanecio-con-un-importante-corte-en-el-puente-la-noria-y-otros-puntos/

[10] https://pt.wikipedia.org/wiki/Carlos_Menem

[11] https://pt.wikipedia.org/wiki/Domingo_Cavallo

Tradução: Luana Bonfante

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