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quinta-feira, março 28, 2024

Sobre o oitavo aniversário da revolução síria

O oitavo aniversário da revolução síria coincide com as revoltas do povo sudanês e argelino contra regimes que estão no poder há décadas, apesar das ameaças dos regimes de seguirem o exemplo sírio, o que significa a destruição total da sociedade e de sua arquitetura na tentativa de deter a população e obrigá-la a aceitar a submissão e renunciar a qualquer mudança por medo de viver o mesmo destino.

Por: Victorios Shams

A revolução síria começou em março de 2011, influenciada pelos movimentos populares que começaram na Tunísia, seguidos pelo Egito, Líbia, Iêmen e Bahrein, e depois se expandiram para o Líbano, Jordânia, Iraque e outros, embora em níveis diversos.

Apesar das semelhanças em relação às estruturas políticas, econômicas, sociais e culturais, e aos regimes que vêm governando há décadas no mundo árabe (regimes totalitários baseados em enormes recursos naturais, enquanto seus povos sofrem opressão, pobreza e privação), a revolução síria é notável pela extrema violência empregada contra ela tanto pelo regime quanto por forças estrangeiras.

Os exércitos americano, sionista, britânico, russo, francês, turco e iraniano, e muitas milícias sectárias estrangeiras estão, em sua maioria, envolvidas em ataques e massacres contra o povo sírio.

Alguns desses massacres foram realizados sob a alegação de erros táticos não intencionais, como os bombardeios de aldeias e cidades e o assassinato de centenas de civis pela “coalisão” liderada pelos Estados Unidos, sob o pretexto de confrontar organizações extremistas islâmicas.

Sob os mesmos pretextos, outros massacres foram realizados sem qualquer disfarce, tanto pelos exércitos russo e iraniano quanto pelas milícias associadas, cuja presença era exigida pelo regime sírio para enfrentar uma “conspiração global” contra ele.

Embora negado pelos executantes, todos esses massacres foram documentados e expostos ao mundo inteiro através da mídia.

A Síria se tornou um campo para testar e comercializar armas o que foi  reconhecido pelas forças russas mais de uma vez, aberta e claramente. Há também relatos de experimentos realizados com detentos.

Em 2014, o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (UNHCHR) em Genebra parou o censo dos mártires na Síria depois que o número de vítimas superou 100.000 mortos até o final de 2013, considerando que “seus funcionários não têm acesso suficiente às áreas de combate para obter números precisos sobre o número de vítimas da guerra na Síria”. Isso significa que os números já eram muito maiores.

A ONG Human Rights Watch, baseada em um censo publicado pelo Centro Sírio para Pesquisa Política, publicou um relatório confirmando que em fevereiro de 2016, o número de mortos atingiu 470.000 além de mais de 90.000 detidos e cerca de 60.000 desaparecimentos forçados (números podem ser bem maiores).

Dos 90.000 detidos, mais de 8.000 são mulheres (cerca de 300 menores) detidas até meados de 2018. Algumas delas foram feitas reféns, até que seus parentes do sexo masculino se rendessem ao regime.

Além disso, metade da população síria foi expulsa de suas casas seja por deslocamento interno quanto por asilo no exterior. O custo estimado da reconstrução do país é de cerca de meio trilhão de dólares.

O regime sírio e seus partidários acreditam que eles conseguiram sua vitória sobre o povo sírio ao suprimir a revolução por meio de violência excessiva que forçou os revolucionários ao que eles chamam de “reconciliação”. Muitos dos que foram forçados à “reconciliação” foram presos ou tiveram que fugir.

A província de Idlib, controlada por rebeldes, continua aguardando a decisão final. O regime sírio está à espreita enquanto os jatos russos bombardeiam o Eufrates Ocidental e as forças turcas frequentemente fazem incursões e ameaças em várias áreas do norte.

Além disso, as forças sionistas atacam o território sírio regularmente, mas tanto o regime sírio quanto as forças iranianas parecem estar acostumadas a eles, uma vez que são executadas em acordo e comunicação prévia com as forças russas.

O regime voltou a erigir suas estátuas nas áreas em que foram derrubadas, como aconteceu recentemente quando uma nova estátua do ex-presidente Hafez al-Assad substituiu a antiga estátua destruída pelos revolucionários em 2011 na cidade de Deraa. Juntamente com estátuas, funcionários dos serviços de inteligência.

Em 2011, a Divisão de Segurança Política, liderada pelo general Atef Najib, parente de Bashar al-Assad, prendeu adolescentes em Deraa e contou aos pais as palavras que desencadearam a revolução: “Esqueça as crianças! Façam outras ou tragam as mães aqui e nós executaremos a tarefa em seu nome.”

Da mesma forma, o major-general Muhammad Mahla, chefe da Divisão Geral de Inteligência, visitou a cidade de Deraa, liderando uma delegação de segurança comissionada por Bashar al-Assad para se encontrar com os dignitários da cidade no final de fevereiro de 2019.

Os representantes da população de Deraa apresentaram uma petição com 13 reivindicações encabeçadas pela reivindicação de liberdade para os presos políticos. Mahla disse a eles para esquecer os que foram presos antes de 2014 e se comprometeu a libertar os que foram presos depois de 2014 que ainda estiverem vivos.

Ele observou que os detidos antes de 2014 estão “em uma situação crítica e talvez a maioria deles tenha morrido” o que levou a população a sair novamente em manifestações que se parecem com uma segunda onda da revolução.

Embora se esperasse que o povo sírio fosse subjugado, relegado à obediência e se tornasse um exemplo para outros povos que desejam liberdade, a realidade provou que o regime não aprendeu com as lições dos últimos oito anos.

As revoluções chacoalham todos os regimes árabes, do oceano ao Golfo, e quando uma revolução desaparece, outra irrompe.

As exigências são as mesmas: um regime com liberdades democráticas e sem lugar para a corrupção, garantindo a dignidade humana na sua terra natal e garantindo justiça e igualdade para todos os povos.

Tradução: Fábio Bosco

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