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quinta-feira, abril 18, 2024

Sobre os atentados em Paris

A França viveu uma de suas noites mais dramáticas em muitos anos. O terror tomou conta de Paris a partir de uma série de atentados suicidas realizados em oito pontos da cidade que, segundo contagem parcial, deixaram ao menos 127 mortos e mais de 200 feridos, muitos deles em estado grave.

Por: Secretariado Internacional da LIT-QI

A maioria morreu baleada na casa de shows Bataclan, lotada de pessoas que assistiam a um show de música. Houve outros ataques, com bombas e fuzis automáticos, em restaurantes próximos e até nas imediações do Estádio da França, enquanto ocorria um jogo amistoso de futebol entre as seleções da França e da Alemanha. Após a explosão de um dos “homens-bomba”, a multidão que assistia à partida correu aterrorizada e chegou a ocupar o gramado do jogo. Oito agressores morreram ao detonar seus cinturões carregados de explosivos.

Estamos diante de um dos maiores atentados terroristas em uma capital europeia em décadas. Este fato só é comparável com o ataque ao metrô de Madri realizado em 11 de março de 2004, quando a Al Qaeda reivindicou o assassinato de 191 pessoas e cerca de 2.000 feridos.

O presidente francês, François Hollande, respondeu rapidamente com frases como “o combate (contra os terroristas) será sem piedade”, “A França será implacável”. Nesse sentido, suas primeiras medidas foram a imposição do “estado de emergência” em toda a França e o anúncio do fechamento total das fronteiras. Também ordenou a mobilização do exército, enviando imediatamente mais de 1.500 soldados às ruas, que se somaram aos 7.000 que patrulham Paris permanentemente desde o atentado à sede do semanário satírico Charlie Hebdo, perpetrado em janeiro deste ano.

Passada a madrugada, Hollande realizou novas declarações públicas no Eliseu, sede oficial do governo, e assegurou “não ter dúvidas” de que o responsável pelos atentados seria o Estado Islâmico. “É um ato de guerra que foi cometido pelo ISIS (sigla do grupo em inglês) contra os valores que defendemos”. O presidente francês também fez alusão ao fato de que os terroristas teriam atuado mediante “cúmplices dentro do país”.

Diante desses fatos, declaramos:

1. Nosso completo repúdio aos atentados que tiraram a vida de pessoas inocentes em Paris. Expressamos nossa solidariedade com os feridos e com as famílias das vítimas fatais. Sentimos profundamente a dor do povo parisiense.

2. O Estado Islâmico assumiu a autoria dos atentados. Isso não deve surpreender ninguém, pois se trata de um “partido-exército” que defende um programa teocrático ultrarreacionário e se vale de métodos fascistas para aterrorizar e escravizar populações inteiras da Síria e do Iraque. Este tipo de ações, inscritas no chamado método do “terrorismo individual”, poderia parecer “anti-imperialista” pelo fato de ter ocorrido em uma importante capital como a francesa. Mas não é assim. Estamos diante de uma ação claramente reacionária, que será usada contra a classe trabalhadora europeia e imigrante. Na verdade, trata-se de ataques a pessoas comuns, muitas delas trabalhadoras. Isto é, não só não estão dirigidos contra os capitalistas nem “debilitam” os Estados imperialistas como, ao contrário, “fortalecem-nos” – ao menos por um tempo -, pois oferecem argumentos aos governos para realizar uma escalada repressiva e reacionária contra as minorias étnicas, religiosas, ou contra o movimento operário e a esquerda em geral. Neste caso, seguramente a ofensiva será contra os imigrantes árabes, muçulmanos e contra as dezenas de milhares de pessoas que chegam, ou tentam chegar, como “refugiadas” do Oriente Médio. A imprensa burguesa tentará associar, mais uma vez, o “islamismo” com o Estado Islâmico, ainda que esta comparação seja completamente falsa e absurda.

3. Ao mesmo tempo, o justo repúdio ao Estado Islâmico e seus métodos não deve impedir a condenação da enorme e asquerosa hipocrisia de Hollande, do ex-presidente francês Nicolás Sarkozy, de Obama, Merkel, etc., que tratam de hastear a bandeira de uma suposta defesa da “humanidade” e da “democracia” diante da “barbárie terrorista”, quando promoveram terríveis invasões terrestres (como as do Iraque e Afeganistão) que causaram centenas de milhares de mortos no Oriente Médio e atualmente encabeçam bombardeios na Síria e no Iraque. Os governos europeus e dos EUA, por mais que insistam em invocar a luta da “civilização contra a barbárie”, são os principais responsáveis pelo selvagem terrorismo de Estado em todo o Oriente Médio. As marcas das suas garras imperialistas remontam aos séculos de colonialismo – no caso dos franceses, por exemplo, na Argélia -, passando pela imposição e manutenção de ditaduras sanguinárias – como a de Bashar Al-Assad, na Síria -, até chegar aos genocídios de populações inteiras por meio de suas intervenções militares, em que também consideramos sua cumplicidade com a histórica limpeza étnica na Palestina. Por isso, é necessários rechaçar categoricamente os métodos atrozes do Estado Islâmico, mas sem esquecer por um segundo, e muito menos calar, que os maiores terroristas da história humana são as potências imperialistas.

4. O cinismo desses senhores não tem limites. A imprensa internacional já começa a falar do “11 de setembro francês” e muitos defendem abertamente impulsionar uma “guerra total contra o terrorismo” ao estilo de George W. Bush. Nesse sentido, opomo-nos a todas as medidas repressivas que Hollande anunciou: estado de emergência e mais militarização. Certamente, isso será usado contra os imigrantes que a duras penas tentam ganhar a vida na França e em outros países europeus. O fechamento das fronteiras está claramente associado à política de não acolher mais refugiados, num momento em que presenciamos a maior onda migratória na Europa desde o fim da Segunda Guerra Mundial. Para aplicar todas essas medidas reacionárias, Hollande e os demais governos europeus tentarão se apoiar no inevitável fortalecimento do clima de racismo e xenofobia que este tipo de atentado alimenta. Partidos de extrema direita, ao estilo Le Pen e outros, sem dúvida se utilizarão deste clima para tentar responsabilizar e perseguir diretamente os refugiados que fogem da guerra na Síria e de outros países do Oriente Médio. A política de Hollande e do imperialismo europeu convoca a uma suposta “unidade nacional e internacional contra o terror”, mas alertamos que esta retórica é apenas uma cortina de fumaça para atacar as liberdades democráticas dos próprios povos europeus e para perseguir os imigrantes e refugiados.

5. A esquerda mundial, especialmente a europeia, e todo o movimento operário, social e defensor dos Direitos Humanos devem rechaçar nas ruas o conjunto dessas medidas repressivas e discriminatórias do governo francês, que o Estado Islâmico, com seus métodos terroristas, melhorou as condições para que sejam aplicadas.

Toda nossa solidariedade às vítimas e suas famílias!

Abaixo as medidas repressivas de Hollande, facilitadas pela ação terrorista do Estado Islâmico!

Contra qualquer tipo de xenofobia e islamofobia!

Asilo imediato e irrestrito a todos os refugiados que chegam à França e à Europa!

Secretariado Internacional

São Paulo, 14 de novembro de 2015

Tradução: Diego Cruz

 

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