Jue Mar 28, 2024
28 marzo, 2024

Mujica toma chimarrão com o Imperialismo


O discurso do presidente Mujica na ONU foi publicado em todos os meios de comunicação. Seus ministros, assessores e aduladores anteciparam que seria uma peça oratória única, mesmo o jornal burguês local se somou ao coro de louvores e o aplaudiu.



O que ele disse que o aplaudiram desde os políticos burgueses brancos até as patronais anti-operárias passando pelos milionários como G. Soros e Rockefeller, que vivem da exploração e da especulação dos nossos povos?



Mujica falou do Sul, de sua pobreza, violência, marginalização, colonialismo e até do bloqueio a Cuba. De tudo isso que os chefes de Estado e os embaixadores sempre falam na ONU, um foro a serviço das grandes potências que, com seu poder de veto, impedem que se tome qualquer medida contra os seus interesses.



Mas não falou da luta de classes, das inúmeras manifestações que aconteceram no Brasil, das greves dos mineiros da Bolívia, da luta dos professores e dos trabalhadores da saúde na Argentina e em nosso país.



Se sentiu, sem dúvida, representante do nossa América e sinalizou, entre outras coisas, que: “Carrego uma gigantesca dívida social, com a necessidade de defender a Amazônia, os mares, nossos grandes rios…”



Mas não falou do que conhecemos: a entrega para as multinacionais como BUTNIA – UPM que arrasa com os campos cultivados para plantar eucaliptos e que verte quilos de dejetos que contaminam diariamente o rio Uruguai. Não falou dos de 500 mil Uruguaios que ganham abaixo de $10.000[1]. Menos ainda, da fraudulenta dívida externa contraída pelas ditaduras e que nós, trabalhadores e pobres de toda América, estamos pagando pontualmente, às custas da educação, da saúde e da moradia. Nenhuma palavra sobre o projeto Aratirí de mega mineração e o porto de águas profundas que romperá o ecossistema da Costa Atlântica. Só uma menção à presença uruguaia no Haiti e no Congo, para queixar-se de que… “levamos anos e anos, sempre estamos nos lugares que nos designam, mas onde se decide, e repartem os recursos, não existimos nem para servir o café.”



Aos do Norte disse o que eles queriam ouvir: que, de acordo com Tabaré Vazquez e seu ministro Astori, defende os investimentos estrangeiros sem condições, porque necessitamos de sua filantropia e de seu assistencialismo, aceitando transformar o país em um laboratório mundial no tema da maconha. Como não iriam aplaudi-lo! Esse velho presidente, sóbrio, enternecedor, é uma prova de que o velho guerrilheiro pode ser domesticado e transformado num menino de recados.



É o mesmo Mujica que mandou construir um cárcere VIP para os ditadores e seus criminosos, o que se opôs à anulação da lei de anistia, porque respeita o pacto feito com as FFAA (Forças Armadas do Uruguai), desde o Pacto do Club Naval.



É o mesmo presidente que trata por preguiçosos os empregados públicos, mandou os professores trabalharem mais horas, o que assinou a essencialidade para os trabalhadores da saúde (criando obstáculos à mobilização destes trabalhadores), o que aceita que seu ministro do interior se infiltre nas manifestações estudantis, vigie e controle os manifestantes, criminalizando os protestos e, em especial, alguns de seus porta-vozes, como os lutadores Irma Leites, Jorge Zabalza e Alvaro Jaume.



O discurso de Mujica menciona a palavra “lutar” uma só vez, “lutar por uma agenda de acordos mundiais”, mas acrescenta que nem sequer isso “é fácil, nem rápido, no caso de ser possível”. Já não é possível lutar, menos ainda derrotar o imperialismo e sua política de fome e de roubalheira do povo. Mujica, vergonhosamente, declarou sua rendição. Por isso, seu discurso irá parar na lixeira da história.



[1] A moeda uruguaia é o Peso, que vale aproximadamente R$ 0,10. Portanto o autor destaca os mais de 500 mil trabalhadores uruguaios que ganham abaixo do equivalente a R$ 1.000,00.

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