Sáb Abr 20, 2024
20 abril, 2024

Resposta à declaração da Federação Egípcia de Sindicatos Independentes

O principal dirigente da Federação Egípcia de Sindicatos Independentes, Kamal Abu Eita, assumiu o cargo de Ministro do Trabalho do novo governo egípcio. Fatma Ramadan, membro do Comitê Executivo da Federação, se opôs à que ele assumisse esse cargo e emitiu esta declaração.

Meus camaradas, os trabalhadores egípcios, lutam por seus direitos e por um Egito melhor. Os trabalhadores do Egito têm sonhos, sonhos de liberdade e de justiça social, sonham em poder trabalhar em um momento em que ladrões que são chamados empresários solicitam fechamento de fábricas para embolsar bilhões. Os trabalhadores egípcios sonham com salários justos, sonham em ter um governo que não esteja interessado apenas na promoção dos investimentos às custas dos trabalhadores e dos seus direitos, e até mesmo de suas vidas. Os trabalhadores egípcios sonham com uma vida melhor para seus filhos e sonham em ter acesso a medicamentos quando estão doentes, e não os encontram. Os trabalhadores egípcios sonham em ter uma pequena casa com quatro paredes dentro da qual possam encontrar abrigo.

Desde antes de 25 de janeiro [de 2011 – Mubarak caiu em fevereiro de 2011] vocês têm lutado pelos seus direitos, e suas greves e manifestações continuaram após a derrubada de Mubarak, tendo em vista que suas demandas ainda não foram atendidas.

A Irmandade Muçulmana e as Forças Armadas negociaram de todas as formas e em nenhum momento sequer destas negociações eles levaram em consideração as revindicações e os direitos pelos quais vocês têm lutado. Tudo o que eles têm em mente é encontrar uma maneira der apagar a vela que vocês acenderam com suas lutas em tempos de escuridão e trevas, mesmo que essas lutas tenham se dado, muitas vezes, de forma isolada uma da outra.
As Forças Armadas não puseram um fim violento às suas greves e protestos em Suez, Cairo, Fayyoum, e em todo o Egito?! As Forças Armadas não prenderam vocês e os submeteram a julgamentos militares, não acusaram vocês por simplesmente estarem exercendo os seus direitos de organização, de greve e de protesto pacífico?!  As Forças Armadas não trabalham inflexivelmente para criminalizar esse direito, através da legislação, impedindo o direito de todas as pessoas egípcias se organizarem e participarem de protestos pacíficos e de fazerem greve?
Então veio Morsi e a Irmandade Muçulmana para continuar o mesmo caminho de divisão, prisões e repressão às greves pelo uso da força, ao ponto de usar cães policiais contra os trabalhadores da Titan em Alexandria, através do Ministério do Interior e seus homens. Os próprios policiais e o exército, que são agora carregados nos ombros, são os assassinos, os próprios assassinos dos jovens egípcios honestos, esses policiais e os homens do exército são a arma do poder contra todos nós, e assim permanecerão, em todo tempo e lugar, a menos que estas instituições passem por um processo de limpeza.
Hoje, por causa dos crimes diariamente planejados pelos líderes da Irmandade Muçulmana contra o povo egípcio, que o exército e a polícia atacam com violência brutal e do assassinato de pessoas inocentes – devemos pensar – quando o exército e a polícia intervêm? Eles intervêm muito tempo após o início dos confrontos, quanto os confrontos estão quase chegando ao fim, depois de sangue inocente ter sido derramado. Perguntem a si mesmos, por que eles não impedem esses crimes cometidos pela Irmandade Muçulmana contra o povo egípcio antes mesmo de eles começarem? Perguntem a si mesmos, é interesse de quem a continuação da luta e do derramamento de sangue? É do interesse tanto da liderança da Irmandade Muçulmana quanto das Forças Armadas em conjunto. E, da mesma forma que a guerras entre Estados é alimentada com o sanguedos pobres, o mesmo acontece com a guerra e lutas internas alimentadas a partir dos trabalhadores e camponeses egípcios pobres. Não foi o filho inocente do porteiro assassinado em Mokattam e em Giza também?
Hoje, somos convidados a sair às ruas e encontramos todas as três centrais: a Federação dos Sindicatos Governista, a Federação Democrática dos Trabalhadores Egípcios e a Federação Egípcia de Sindicatos Independentes (da qual eu sou um membro do Comitê-Executivo e estou envolvida em uma discussão com os membros do comitê executivo, a fim de convencê-los a não emitir uma declaração convocando os seus membros e o povo egípcio a sair na sexta-feira (dia 26) para confirmar que o exército, a polícia e o povo são “uma única mão”, como referido na declaração, mas a minha posição era minoritária, tive outros quatro votos em meu apoio contra nove votos de apoio ao comunicado publicado) convocando os trabalhadores a se manifestarem e autorizar a matança de Sisi, sob o pretexto de combater a terrorismo. Estamos, portanto, diante de uma situação onde estamos pulando de uma chapa quente diretamente para o fogo. A Irmandade Muçulmana cometeu crimes e devem ser responsabilizados e julgados por esses crimes, assim como policiais e oficiais do exército e soldados do regime de Mubarak  devem ser responsabilizados e julgados por seus crimes.
Não se deixem enganar, substituindo uma ditadura religiosa por uma ditadura militar.
Trabalhadores do Egito: estejam conscientes, porque as suas demandas são muito claras, vocês querem trabalhar para vocês e para seus filhos, vocês querem um salário justo, vocês querem leis que protejam seus direitos contra as leis que os empresários de Mubarak conceberam para proteger os interesses deles próprios contra os direitos de vocês trabalhadores, vocês querem um Estado que seja baseado no desenvolvimento, um Estado que abra novas fábricas a fim de acomodar a força de trabalho emergente. Vocês querem Liberdade, liberdade de todos os tipos, liberdade de organização, liberdade de greve. Vocês querem um país onde vocês possam viver como cidadãos livres, sem torturas ou assassinatos. Vocês precisam definir o que está se interpondo entre vocês e suas demandas. Não se deixem enganar, não permitam que os homens do regime arrastem vocês para as batalhas que não são as suas próprias batalhas. Não deem ouvidos a quem lhes pedir hoje e amanhã para cessar as pressões por essas demandas e direitos, sob o pretexto de combater o terrorismo.
* Membro do Comitê Executivo da Federação Egípcia de Sindicatos Independentes
Sexta-feira, 26 de julho de 2013

Más contenido relacionado:

Artículos más leídos: