Vie Mar 29, 2024
29 marzo, 2024

Margareth Thatcher morreu


O funeral de Margaret Thatcher, organizado pela sua família e pelo governo conservador da Grã-Bretanha, liderado por James Cameron, transformou-se em um encontro dos maiores representantes dos governos, dos banqueiros e dos empresários de todo o mundo. 

 


Eles renderam homenagem a quem foi a principal protagonista, com outros líderes chaves da época, especialmente na década de 1980, de uma das maiores ofensivas contrarrevolucionárias mundiais da história, que culminou com a volta do capitalismo aos países do Leste e a Cuba.

Do outro lado, milhões de trabalhadores expressaram seu repúdio a quem foi, em vida, uma inimiga declarada da classe operária e dos povos de todo o mundo.



Na Inglaterra, os trabalhadores se recordam com ódio de Margaret Thatcher, como a chefe de um dos governos mais antioperários da história, que teve um marco fundamental na derrota da greve dos mineiros do carvão em 1984-1985, levando ao fechamento da maioria das minas e à perda de dezenas de milhares de postos de trabalho.



Este foi um dos ataques mais duros contra os trabalhadores e o povo inglês, no contexto de uma ofensiva patronal que incluiu a liquidação de indústrias inteiras, como a siderúrgica, e o fim de grandes conquistas operárias, bem como a imposição de impostos, como o chamado “Poll Tax”, segundo o qual os pobres pagavam cada vez mais e os ricos, cada vez menos.



O ódio de Thatcher contra os trabalhadores era tanto que, quando morreram cerca de cem torcedores do Liverpool, um dos clubes com mais simpatizantes operários, em uma partida de futebol e por culpa das autoridades e das forças repressivas, ela encobriu os responsáveis por esse massacre.



Por isso, não é de surpreender que, com a notícia de sua morte, foram organizados dezenas de atos operários e populares em toda a Inglaterra para celebrar. O povo argentino também se recorda de Thatcher com ódio, como a chefe dos piratas britânicos que retomaram, a sangue e fogo, as Malvinas em 1982, cometendo crimes de guerra como o afundamento do Cruzeiro Geral Belgrano, que levou à morte de mais de 300 jovens marinheiros que estavam a bordo. A guerra imperialista contra a Argentina, com a ajuda dos Estados Unidos, e o triunfo com a retomada das ilhas pelas tropas britânicas permitiram a Thatcher recuperar-se do desgaste que o crescente ódio dos trabalhadores e do povo provocava em seu governo. A LIT-QI, com muito orgulho, reivindica sua tradição de ter enfrentado Thatcher, com todas as suas modestas forças e junto com a classe operária, tanto na Grã-Bretanha como internacionalmente. Destacamos, em particular, o papel da International Socialist League (ISL), nossa organização na Grã-Bretanha, cujos militantes não só enfrentaram os ataques do governo de Thatcher contra a classe operária inglesa como também levantaram a bandeira da solidariedade internacionalista dos trabalhadores e dos povos ao apoiar a Argentina na guerra das Malvinas, denunciando e enfrentando o colonialismo de seu próprio imperialismo.



Mas o papel de Margaret Thatcher como chefe contrarrevolucionária mundial vai muito além desses fatos.



A ofensiva da frente contrarrevolucionária mundial



Nos anos 1980, o imperialismo vinha golpeado por dois fatores fundamentais: uma crise crônica da economia mundial, iniciada no final dos anos 1960, e a primeira derrota militar da história dos Estados Unidos no Vietnã. A partir da crise e da derrota, o imperialismo sofreu um grande enfraquecimento e se via impedido de lançar novas agressões militares em escala mundial. Nesse contexto, no final dos anos 1970 e ao longo dos anos 1980, houve importantes revoluções democráticas que derrotaram ditaduras aliadas aos ianques, primeiro na Nicarágua e no Irã, depois na Argentina, na Bolívia e em outros países da América do Sul e, mais tarde, nas Filipinas e na Coréia do Sul.



Thatcher, junto com figuras chaves como Ronald Reagan, presidente dos Estados Unidos, os então líderes burocráticos da URSS e da China, Mikhail Gorbachev e Deng Xiaoping, e o papa polonês Carol Wojtyla, conhecido como João Paulo II, atuaram como os chefes de uma verdadeira frente contrarrevolucionária mundial, responsável por orquestrar uma política para responder à crise do capitalismo e derrotar a onda revolucionária que percorria o mundo.



Como parte dessa mesma política, levaram adiante um ataque às conquistas trabalhistas e salariais dos trabalhadores de todo o mundo, não só no Terceiro Mundo como também nos próprios países imperialistas. Com essa ofensiva contrarrevolucionária, também submeteram os países dominados pelo imperialismo à fraude mundial das dívidas externas, tudo comandado pelo FMI e pelo Banco Mundial. Isso veio acompanhado de uma ofensiva privatizadora, as chamadas políticas neoliberais. Como resultado, impôs-se um aumento enorme da pobreza, da precarização trabalhista e do desemprego no mundo, junto com uma igualmente enorme concentração da riqueza nas mãos das grandes empresas multinacionais e dos bancos.



A maior conquista contrarrevolucionária: a restauração capitalista na China, na URSS, no Leste Europeu e em Cuba



A maior conquista dessa ofensiva contrarrevolucionária liderada por Reagan e Thatcher, com a cumplicidade dos dirigentes soviéticos e chineses e do Vaticano, foi a restauração do capitalismo na URSS, na China e em todos os países do Leste Europeu e em Cuba. Esse processo, que começou no final dos anos 1970, concretizou-se com a entrada massiva das multinacionais na China, que se transformou na “fábrica capitalista do mundo” sob a condução do próprio Partido Comunista liderado por Deng.



Na URSS, o XXVII Congresso do Partido Comunista da União Soviética, liderado por Gorbachev, adotou, em 1986, medidas chaves como a eliminação da planificação econômica e do monopólio estatal das finanças e do comércio exterior, que abriram as portas para o capitalismo. O mapa do mundo mudou e foi imposta uma nova divisão internacional de papéis na economia, com a China como fornecedor de produtos industriais e grande consumidor de matérias-primas dos países do Terceiro Mundo e os Estados Unidos e a Europa cada vez mais centrados no desenvolvimento da tecnologia informática, na indústria militar e nas finanças.



Ao entrar na China, na URSS e nos países antes governados pelos PC's, as multinacionais tiveram acesso à exploração direta de centenas de milhões de trabalhadores e, assim, conseguiram uma relativa recuperação de seus lucros para sair da crise.



A queda do muro



Até aí poderia se dizer que, ainda que com limitações e derrotas parciais, a ofensiva contrarrevolucionária liderada por Thatcher e Reagan conseguiu um triunfo enorme para o imperialismo. No entanto, a entrada do capitalismo, com seu brutal aumento da exploração e da pobreza, provocou enormes levantes operários e populares na URSS, na China e nos demais ex-Estados operários burocratizados.



Na China, a ditadura liderada por Deng conseguiu derrotar uma insurreição que se concentrou, em 1989, na praça Tiananmen em Pequim e, com isso, consolidou o regime e o lançamento de um grande auge de crescimento da economia do país.



Mas, nesse mesmo ano, em novembro de 1989, houve a grande mobilização operária e popular na Alemanha Oriental que levou à queda do Muro de Berlim. Esse foi o começo da derrubada dos regimes dominados pelos PC's no Leste Europeu e da crise e dissolução da URSS.



A partir daí, desenvolveu-se uma nova onda revolucionária no mundo. Consequência disso, os governos de Reagan e de Thatcher sofreram um grande desgaste e os republicanos e os conservadores perderam o poder nos Estados Unidos e na Inglaterra, respectivamente.



O legado de Thatcher



Na década de 1990, os trabalhistas de Tony Blair governaram a Grã-Bretanha e os democratas de Clinton, os Estados Unidos. Ainda que tenham mudado o “tom” para se adequar ao clima político criado no mundo pela queda do muro, oposto às ditaduras e às guerras contrarrevolucionárias, Clinton e Blair mantiveram no que era essencial todas as medidas antioperárias impostas por Thatcher e Reagan.



No início da década de 2000, com a continuidade do ascenso de lutas operárias e populares no mundo e o aparecimento de alguns sinais de crises importantes na economia capitalista, o governo de George W. Bush, aproveitando a desculpa do ataque terrorista às Torres Gêmeas de Nova York em 2001, encabeçou uma nova tentativa de ofensiva contrarrevolucionária.



Apoiado em uma equipe de assessores e funcionários formados nos tempos de Reagan e Thatcher, Bush lançou a guerra contra “o eixo do mal”, com a ocupação militar do Iraque e do Afeganistão. Essa tentativa seria derrotada em poucos anos e isso, combinado com uma grave crise financeira e econômica, desembocaria, em 2007, no início do atual desastre do qual o capitalismo padece mundialmente.



Hoje, passados vinte e cinco anos desde que Margaret Thatcher deixou o poder, em meio a uma crise que não para de se agravar, os trabalhadores e os povos sentem, mais do que nunca, os sofrimentos impostos pela ofensiva contrarrevolucionária que ela encabeçou junto com Reagan. Diante disso, está havendo grandes mobilizações e protestos operários e populares que percorrem a Europa, inclusive a Grã-Bretanha, e o mundo árabe.



No seu funeral, muitos dos governantes, os grandes banqueiros e executivos de multinacionais sem dúvida terão se recordado com nostalgia dos bons velhos tempos em que “Maggie”, a “dama de ferro”, junto com seu amigo “Ronnie”, souberam manter os trabalhadores "na linha" para tirar o capitalismo da crise.



Em uma posição oposta, diante da morte de Margaret Thatcher, essa inimiga jurada dos trabalhadores, a LIT-QI e seus partidos chamam a redobrar a luta dos trabalhadores contra a barbárie, a exploração e a opressão das multinacionais, dos banqueiros, do FMI e de todos os seus representantes, apoiando e impulsionando as lutas operárias e populares em todo o mundo, na perspectiva da derrota definitiva do imperialismo em nível mundial e a conquista do socialismo.



O Papa Francisco, triste pela morte de Thatcher



O jornal Clarín publicou, em 8 de abril, a seguinte nota baseada nos informes das agências de notícias: Em um telegrama escrito em inglês enviado ao primeiro-ministro do Reino Unido, David Cameron, e divulgado pela assessoria de imprensa da Santa Sé, indicou-se que “Sua Santidade, o Papa Francisco, entristeceu-se muito ao se inteirar da morte da baronesa Margaret Thatcher”.



“Ele recorda os valores cristãos que estavam na base de seu compromisso com o serviço público e na promoção da liberdade entre a família das nações”, enfatizou o texto. Finalmente, “confiando sua alma à misericórdia de Deus e assegurando à sua família e ao povo britânico uma lembrança em suas orações, o Santo Padre pede a abundante bênção de Deus para todos aqueles cujas vidas ela tocou”.



A “Igreja dos pobres” que Bergoglio prega continua mantendo a defesa dos “valores cristãos” de Thatcher: a defesa, por todos os meios, do capitalismo imperialista à custa da miséria e da pobreza da imensa maioria da população mundial.



Tradução: Raquel Polla

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