Sáb Abr 20, 2024
20 abril, 2024

Grécia: Uma alternativa sindical: os coletivos unitários de base

Durante o Encontro Sindical Internacional de Paris, entrevistamos Dina Reppa, grega, professora do ensino fundamental, sindicalista e militante da organização política Antarsya. Aqui vão os principais trechos.

 

A situação é catastrófica…

Na Grécia, já não se fala sobre as medidas de austeridade, porque faz parte do cotidiano em que estamos mergulhados. As medidas impostas são catastróficas: a queda dos salários é enorme, mas também as mudanças das condições e relações de trabalho. Por exemplo, os acordos coletivos de trabalho tendem a desaparecer embora tenham sido muito importantes na Grécia. Há 1,5 milhões de desempregados na Grécia e mais de 40% dos trabalhadores do setor público não recebem seu salário há cinco meses! Muitas famílias de cinco a seis membros, nas quais todos são desempregados, não conseguem pagar a conta de luz. Todo mundo tem que buscar uma maneira de sobreviver. A saúde e a educação pública estão praticamente destruídas. Por esta degradação, o governo está querendo abrir estes setores à especulação capitalista. Depois dos migrantes, as mulheres são as mais afetadas pela crise: 70% dos desempregados são mulheres.

Uma segunda coisa é o ataque aos direitos democráticos em diferentes níveis. Um problema maior reside na imigração, onde a repressão é constante com agressões racistas da polícia que persegue os imigrantes e ilegais, que logo são golpeados ainda mais por grupos fascistas. Quanto aos trabalhadores, qualquer paralisação que supera 24 horas, é considerada ilegal e os trabalhadores são intimados poucas horas depois da greve, com obrigação de retomar suas atividades… Tudo isto é criado pela democracia burguesa, que sabota, ela mesma, as instituições democráticas existentes.

Uma resposta sindical alternativa

Uma das características da organização sindical grega é que ela nunca se unificou. O setor majoritário é o sindicalismo burocrático que está completamente alinhado com a filosofia política de austeridade. Na Grécia não se utiliza tanto o termo “burocracia”, preferimos falar em sindicalismo estatal: sua visão é apoiar a implementação das reformas de austeridade. Este é o primeiro problema importante.

Alguns sindicalistas tentam se livrar desse sindicalismo oficial e burocrático. Dentro dos sindicatos, foram criados Coletivos Unitários de Base (CUB), principalmente nos setores da saúde e educação, assim como no funcionalismo municipal. Durante quatro anos, se estabeleceu uma coordenação nacional destes sindicatos de base; é um primeiro passo até a reorganização sindical para a classe operária. Com outras iniciativas similares, estamos tentando construir uma coordenação oficial de sindicatos de base com reconhecimento legal, porém isto ainda não se concretizou.

Dada a situação do país, nossa posição é clara: contra a austeridade, contra a União Europeia, o €uro e o governo. Alguns sindicatos também exigem a nacionalização dos bancos e o fim da dívida pública, assim como o controle operário das empresas fechadas, sem direito à indenização para os patrões.

Que fazer contra a burocracia?

O problema é muito complexo. Em cada sindicato de base, nos baseamos na democracia direta, com a tomada de decisões nas assembleias gerais. Logo, nos organizamos com outros sindicatos que também têm delegados para defendermos juntos essas posições frente à burocracia. Para estes grupos, o problema central é enfrentar a burocracia. Esta, chama greves e manifestações, mas nas mesmas datas e horários que nossos chamados dos sindicatos de base. No entanto, a consciência dos trabalhadores cresce e o mundo do trabalho começa a dar as costas à burocracia. Mas a única maneira legal de declarar uma greve é através dos sindicatos. Esta é a razão pela qual a coordenação de base criou uma pessoa jurídica para resolver este problema. No momento, temos que conviver com a burocracia para fazer pressão no interior dos sindicatos. Hoje em dia, de fato há uma crise do movimento sindical no que tange à sua desmoralização, já que há um violento ataque aos trabalhadores a três ou quatro anos.

E a relação com Antarsya?

Antarsya é uma frente política de várias organizações de esquerda que, há quatro anos, leva as lutas contra o governo e por uma solução anti-capitalista à crise. Afirma claramente que os trabalhadores não devem esperar que o capital retroceda. Queremos romper esta ilusão: não pode haver resultado positivo para os trabalhadores com o capitalismo, nunca houve. Por isso enfatizamos o fato de que não podemos voltar atrás. Também levamos a base à luta contra a desmoralização sindical e a ideia de que não podemos fazer nada contra estas medidas.

Tradução: Jéssica Augusti

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