Jue Abr 18, 2024
18 abril, 2024

Fortalecer as lutas, construir o Partido e a Internacional!

Formação e luta: o sucesso de dois dias de discussão organizados pelo PdAC sobre as lutas históricas e as de hoje.
 
 Nos dias 7 e 8 de setembro, em Rimini, ocorreu um encontro de dois dias organizado pelo Partido da Alternativa Comunista.

 Como nos anos anteriores, se tratou de um encontro importante para fortalecer o partido mas também para fortalecer as lutas, das quais o PdAC é parte integrante (geralmente o único partido presente, no quadro de crise profunda de toda a esquerda reformista e centrista). Este ano registramos um significativo salto à frente, seja quantitativo (a sala estava lotada e precisamos acrescentar filas de cadeiras para acomodar os novos pedidos de participação chegados de última hora), seja qualitativo, pela presença do que há de mais importante na vanguarda de luta do nosso país.

 

Aprender com a história de ontem para avançar nas lutas de hoje
 
Os dois dias foram fruto da combinação entre a fórmula vitoriosa das edições anteriores, caracterizada pela relação entre um corte histórico-político e a novidade deste ano: uma mesa redonda, no domingo, com importantes expoentes das lutas mais radicais que se desenvolveram em nosso país no último ano.

Para os comunistas o estudo não é um mero exercício acadêmico; pelo contrário, representa um instrumento indispensável para a consolidação da capacidade de análise de cada militante, para fornecer aos companheiros os instrumentos úteis para intervirem nas lutas. A jornada de estudo sobre história, no sábado, preparou assim, adequadamente, o debate mais político do domingo. Na mesa redonda participaram os companheiros da Ikea de Piacenza, da Ilva de Taranto, da Om Carrelli de Bari, da logística bolognese (Granarolo), da Fiat Ferrari de Modena. Em outras palavras, na longa mesa da presidência estavam sentados expoentes de quase todas as lutas mais importantes em curso em nosso país atualmente. E não por acaso: fora os militantes do PdAC, os demais eram companheiros que conhecemos nas praças, frente aos portões, nas lutas dos meses anteriores, nas quais como o PdAC, tiveram um papel ativo, portanto uma solidariedade concreta e um apoio militante.

Três grandes experiências de luta do movimento operário italiano
 
As intervenções de sábado foram de alto nível. Adriano Lotito, coordenador nacional dos Jovens da Alternativa Comunista, iniciou os trabalhos descrevendo a finalidade do seminario e a modalidade com a qual seria desenvolvido. Lotito especificou como este encontro não seria um simpósio de estudiosos que, com uma abordagem autoreferencial, se fecham numa sala para discutir os eventos dos passado; mas ao contrário, objetivamente estamos conectados ao desenvolvimento do partido revolucionário na realidade atual. Lotito falou sobre o quadro político nacional e internacional no qual nos encontramos. Em seguida, a fala de Valerio Torre  tocou uma das questões mais interessantes da história do século XX do movimento operário italiano, vale dizer que foi o período definido históricamente como “Biennio Rosso[1] (1919 – 1920). Uma história exemplar porque demonstra o papel nefasto que os reformistas “de ontem” tiveram (com as mesmas modalidades daqueles de hoje). No caso, a traição foi concretizada pelos altos dirigentes do Partido Socialista Italiano que, ao invés de apoiar as lutas vitoriosas dos operários armados que haviam ocupado dezenas de fábricas e conquistado as fortalezas do poder burguês (ao grito de: “faremos como na Rússia!”, isto é, a Rússia da revolução bolchevique de Lênin e Trotsky), fez um pacto mortal com o governo e o patronato, recolocando em suas mãos o poder que já haviam perdido.

A terceira intervenção, de Francesco Ricci, discorreu sobre o tema da Resistência e das lutas operárias no período que vai de 1943 (surgimento da Resistência[2]) a 1948 (a insurreição depois do atentado a Togliatti[3]). Ricci pôs luz sobre a falsificação da historiografia burguesa e stalinista que convergiam em apresentar aquela luta como “guerra de libertação nacional” contra a ocupação alemã, por colocar na sombra a guerra civil, de classe, que se combateu naqueles anos entre operários e burguesia italiana. Uma guerra civil que teria mesmo nesse caso (como no Biênio Rosso) podido concluir-se com uma revolução vitoriosa e, que ao contrário, foi traída pelo stalinismo que contribuiu para reconstruir o Estado Burguês, reconduzindo o poder e as fábricas aos patrões. A última intervenção de sábado, apresentada por Matteo Bavassano, analisou uma outra grande onda de lutas que caracterizou o movimento operário italiano no século XX, aquela iniciada em fins dos anos de 1960 (1968-69) e concluída na segunda metade dos anos de 1970. Um discurso que tocou e uniu, com uma perspectiva materialista, os vários acontecimentos daqueles anos, com a dinâmica da luta de classes seja no âmbito nacional ou internacional. Bavassano falou sobre a organização sindical concreta das lutas operárias naquele período e sua relação com o plano político, comparando-o com a situação atual.

Uma mesa redonda com os protagonistas das lutas
 
Na jornada de domingo houve a grande novidade que muito interessou o encontro desse ano: a mesa redonda na qual debateram – sobre diversos temas que vão da unificação das lutas à necessidade da construção de uma direção política que as coordene e leve-as a questionar todo o sistema econômico – vários expoentes das lutas mais radicais dos últimos tempos. Participaram do debate: Toninho Ferreira, membro do PSTU (seção brasileira da LIT-Quarta Internacional, na linha de frente nas atuais mobilizações do Brasil) e dirigente da CSP-Conlutas (o maior sindicato de base da América Latina); Mohamed Arafat, representante do Si.Cobas da Ikea de Piacenza, protagonista da grande e radical e vitoriosa luta que os trabalhadores da logística realizaram nos últimos meses; Karim, da Si.Cobas de Bologna, entre os companheiros que dirigiram a luta dos trabalhadores da logística da Granarolo (presentes na atividade também vários outros trabalhadores da Ikea e da Granarolo); Paolo Ventrella, membro  da coordenação nacional de No Austerity e delegado da Fiom da Ferrari de Modena, expoente da luta contra  o modelo Pomigliano[4] nos estabelecimentos do grupo Fiat (entre os quais a Ferrari de Maranello); Francesco Carbonara, Rsu Fiom Om Carrelli, uma das fábricas que está fechando na Puglia do governador Vendola, jogando sobre as costas dos trabalhadores anos de uma gestão desastrosa, fábrica na qual os operários estão arduamente impedindo aos patrões de se apossarem  das máquinas e organizaram uma ocupação permanente; Moustapha Wagne, da coordenação nacional de No Austerity e coordenador nacional da CUB Imigração, agitador em toda a Itália das lutas dos imigrantes; Patrizia Cammarata, Rsu Cub da cidade de Vicenza, que lembraram os ataques que sofreram as mulheres trabalhadoras; Salvatore Friscini, operário da Ilva de Taranto e expoente sindical da Usb, que anunciou as mobilizações radicais destes dias contra a demissão política de um ativista sindical na sua fábrica (enquanto escrevemos os operários da Ilva estão em greve e numa luta radical). A dirigir os trabalhadores, Stefano Bonomi, dirigente do PdAC, trouxe à mesa em vários momentos as noticias sobre a questão e as temáticas sobre as quais se falaram. Muito aplaudida e saudada (pela impossibilidade de participarem diretamente) foi a chegada dos operários da Fiat-Irisbus (Resistência Operária) e da Annalisa Minutillo, protagonista da luta na Jabil-Nokia de Cassina de Pecchi (que nestes dias os operários e operárias estão novamente ocupando e em mobilização permanente).

A mesa redonda foi seguida por um fervoroso debate, com intervenções dos militantes do PdAC, companheiros ativistas de outras lutas que, devido à fragmentação, estão em várias partes do país. Entre outras lutas temos: ativistas do No Muos, das lutas da Telecom de Puglia, dos coletivos estudantis, etc. Alguns companheiros de fora do PdAC (em particular provenientes da Refundação ou de outros agrupamentos da esquerda) suscitaram aplausos com o anúncio de sua decisão de filiar-se ao PdAC durante o seminario.

Construir o partido revolucionário: uma necessidade urgente para quem luta

A atividade de domingo foi concluída com a intervenção final de Fabiana Stefanoni, que relacionou as lições da história com a necessidade da luta atual, reforçando a importância de unificar e coordenar as lutas e, ao mesmo tempo, a necessidade de construir o partido classista, revolucionário e internacional.

Nas conclusões foi lembrado muitas vezes o papel dos companheiros da Liga Internacional dos Trabalhadores – Quarta Internacional (do qual o PdAC é a seção italiana) nas várias mobilizações revolucionárias do mundo, do Brasil (onde o PSTU está à frente das lutas que ocorreram nos últimos meses) a Espanha (cujo companheiro, José Moreno Pau, da direção da Corriente Roja, seção espanhola  da LIT, estava presente em Rimini), a Portugal, a Turquia, a América Latina, ao continente africano (foi emocionante o testemunho de Moustapha Wagne que contou sobre a recente construção da LIT no Senegal).

O dado mais evidente para quem participou do seminário nacional nos anos anteriores e neste, foi o salto qualitativo do PdAC. Não apenas numérico, mas também da relação construtiva, intensa e fraterna, com os melhores da vanguarda da luta. Primeiramente, acreditamos que seja mérito do novo contexto internacional, marcado pela retomada de uma onda revolucionária (do Norte da África ao Oriente Médio, até a Europa, a Turquia e ao Brasil). Mas acreditamos que também seja mérito da linha política e organizativa que seguimos nesses anos, contra a corrente: aquela da construção de uma organização de militantes empenhados nas lutas, sobre a base de um programa de classe e de uma perspectiva revolucionária coerente. E fundamentalmente, nessa perspectiva, foi e é para o PdAC a possibilidade de crescer no contexto de uma autêntica organização internacional, a principal e maior organização que se reivindica do trotskismo, isto é, do programa revolucionário: a LIT – Quarta Internacional.

O hino da Internacional concluiu os dois dias. Nos rostos de muitos companheiros se notava a satisfação pela bela e intensa experiência realizada nesses dias e pelo seu sucesso. Um passo avante não apenas para o PdAC mas para fortalecer as lutas e a perspectiva revolucionária, não havendo nenhum outro interesse ou propósito além disso.

Tradução: Nívia Leão.




[1] Biênio Vermelho.

[2] A Resistência foi a luta armada contra o nazismo, na ocupação da Itália pela Alemanha e depois contra o regime fascista liderado por Mussolini.

[3] Um dos dirigentes mais importantes do Partido Comunista Italiano (homem de confiança de Stalin) ao lado de Gramsci (preso pelo fascismo). A tentativa fracassada de seu assassinato em 1948 pelo fascismo, marca um novo período de ascenso da classe trabalhadora italiana.

[4] Refere-se aos contratos e organização de trabalho que flexibilizam os direitos trabalhistas, aumentam o ritmo de trabalho, reduzem salários etc., adotados pela fábrica da da Fiat na cidade de Pomigliano D’Arco e que virou modelo de exploração para os patrões italianos.

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