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terça-feira, março 19, 2024

Agressões sionistas na Cisjordânia e em Jerusalém

Depois de pouco mais de um ano do bombardeio de Israel a Gaza, em julho-agosto de 2014, que deixou um saldo de mais de dois mil palestinos mortos, o Estado sionista volta à ofensiva ao pôr em marcha uma nova onda de agressões e provocações contra os palestinos na Cisjordânia e no leste de Jerusalém nas últimas semanas. As tensões cresceram após as ameaças do governo de Israel de mudar o status quo no complexo de Al-Aqsa, o terceiro local mais importante para a comunidade muçulmana, depois de Meca e Medina, ambas na Arábia Saudita.

Por: Gabriel Huland

Atualmente os judeus podem frequentar a área da mesquita, mas não podem rezar ali. Devido à festa judaica da Sukka, o número de judeus que vão ao local aumenta muito, o que levou o governo israelense a impor restrições à entrada de muçulmanos na mesquita. Os judeus, em sua maioria ortodoxos, não vão apenas para rezar, mas transformam essas datas num momento de afirmação da ocupação e da cultura judias, fazendo provocações gratuitas contra os árabes e muçulmanos. Poucos dias antes da festa judaica da Sukka, ocorre uma das festas religiosas islâmicas mais importantes: o Eid al-Adha, a festa do cordeiro.

Depois de oito dias de confrontos, o número de palestinos detidos supera os 200. Mais de 800 foram feridos com balas de borracha e armas de fogo. As autoridades sionistas afrouxaram ainda mais os regulamentos sobre o uso de armas de fogo pelas Forças de Defesa de Israel (IDF) contra manifestantes palestinos. Até então, um soldado israelense somente poderia utilizar armas de fogo se estivesse em “situação de perigo”. Com as novas medidas, seu uso passa a ser permitido caso o oficial considere que qualquer pessoa no local esteja em perigo. A polícia israelense não respeitava a legislação antes dessa mudança, e agora recebe, na prática, a autorização para matar livremente. Até a quinta-feira 8 de outubro, sete palestinos e quatro israelenses haviam perdido a vida.

Segundo a organização palestina Adameer, 460 palestinos de Jerusalém estão detidos nas prisões israelenses, o que indica um aumento de mais de 60% nas últimas semanas.

Pedras contra armas de fogo e tanques

As pedras converteram-se no principal símbolo da resistência palestina. A desigualdade de condições entre os jovens palestinos que lutam contra a invasão de colonos judeus e os soldados fortemente armados é desproporcional. É difícil acreditar em tal grau de covardia. Uma grande quantidade de vídeos que circulam pelas redes sociais mostra os superequipados soldados israelenses atacando jovens e crianças palestinas armados somente com pedras e um keffiyeh (um lenço típico palestino) sobre o rosto. Este é seu crime: resistir a uma horda de invasores que avança diariamente sobre suas terras.

Recentemente, o primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu lançou uma verdadeira guerra contra os jovens que atiram pedras. Endureceu a legislação, que agora prevê penas mais duras, e autorizou o uso de armas de fogo contra os “terroristas armados”. A imprensa de Israel é tão hipócrita que transforma os jovens palestinos em terroristas e os assassinos israelenses em heróis.

O pequeno povoado de Nabih Saleh, próximo a Ramalah, na Cisjordânia, transformou-se em uma referência da luta palestina desde 2009, quando seus moradores começaram a organizar protestos semanais contra o confisco de terras e de água por parte da colônia judaica de Halamish. Há poucos dias, um vídeo registrou o momento em que um soldado das IDF ataca sem piedade um garoto e, em seguida, é agarrado pela mãe e outros moradores da região.

Mahmoud Abbas colabora com a ocupação

A Autoridade Nacional Palestina (ANP), presidida por Abbas, do Fatah, pediu inúmeras vezes que os palestinos cessem os “atos violentos”. Além disso, ordenou às forças de segurança palestinas que trabalhem para “acalmar” a situação, com a desculpa de que as manifestações na Palestina servem de pretexto para que Israel aumente a repressão.

A página de internet palestina Electronic Intifada acusou Abbas de atuar como “terceirizador da ocupação”, devido à sua atitude de reprimir as manifestações para evitar a todo curso qualquer tipo de tensão com as autoridades de Israel. Seu objetivo é se tornar um mero gestor dos territórios ocupados, enquanto, na opinião de muitos palestinos, deveria organizar a resistência contra a crescente construção de novos assentamentos, condenada pela ampla maioria da comunidade internacional, incluindo a ONU e diversos governos europeus.

Terceira Intifada?

Alguns ativistas e meios de comunicação (tanto pró-Palestina quanto sionistas) opinam que estamos diante do início da terceira Intifada. É muito cedo para falar de um levante generalizado contra a ocupação, como foram as duas últimas Intifadas, ocorridas em 1987 e 2000. No entanto, observamos claramente uma crescente insatisfação com a atual situação na Palestina, com o avanço permanente das colônias nos territórios palestinos, o descaso em relação a Gaza (que segue sem ser reconstruída) e a postura inoperante da ANP.

Na Palestina, o sentimento cada vez mais generalizado é de que os acordos de Oslo fracassaram rotundamente, e que fazem falta novas alternativas políticas que retomem as bandeiras históricas da luta palestina de seu início, como, por exemplo, o fim da ocupação e a reconstrução de uma Palestina laica, democrática e não racista.

Tradução: Isa Perez

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