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quinta-feira, março 28, 2024

A crise do pão: um produto da política neoliberal

O jornal “Almassae” publicou em setembro um artigo intitulado “O Marrocos se encaminha para uma crise do pão e a patronal do setor se preocupa”, no qual se diz que os padeiros alertam sobre uma possível crise do pão no Marrocos, e que o governo marroquino terá dificuldades para prover o mercado de cereais durante o próximo período. A avaliação é baseada nos informes dos organismos internacionais, especialmente a Organização para Alimentação e Agricultura (a FAO), e o Banco Mundial. Isto levou os analistas a considerar que “a situação requer ação urgente e prevenção, para evitar que o Marrocos volte a viver a mesma situação dos anos 80.”

Isto é que se diz atualmente nos jornais, porém, quando nos aproximamos do que está acontecendo na realidade, há uma clara piora da situação para a imensa maioria da sociedade, especialmente para a classe trabalhadora e os mais pobres. Basta observar o projeto de lei orçamentária para o ano de 2013, e sua relação com a questão alimentar, para percebermos que as medidas adotadas nesta seção refletem as novas opções neoliberais, aplicadas pelo governo islâmico moderado, no contexto da crise global do capitalismo.

O valor das importações de alimentos básicos no Marrocos em 1982 foi estimado em 3 bilhões de dirhams AED (dos Emirados Árabes Unidos), e se converteu em 26,7 bilhões de dirhams em 2007, ano do estouro inicial da crise alimentar e do aumento dos preços dos alimentos em nível mundial. O valor das importações de alimentos aumentou em mais de 45% entre 2007 e 2011, e viu-se um aumento de mais de 65% no preço dos cereais, açúcar, leite e chá.

Por outro lado, a política agrícola no Marrocos se construiu sobre cultivos de exportação de menor importância (cítricos), que compõem 30% das importações de alimentos nos últimos anos. Em 2011, se produziu uma diminuição desta porcentagem, até o nível do ano de 1982 (ano em que ocorreram as revoltas do pão no país).

A política agrícola no Marrocos tem uma forte correlação com círculos imperialistas e com as empresas exportadoras mais importantes do mundo, que controlam em grande medida a política alimentar e a produção, para não falar da especulação. A isto se somam os acordos de livre comércio, o que levou à perda da proteção de nossos mercados a partir da invasão dos produtos agrícolas e industriais imperialistas. Isto ocasionou a perda da soberania no que se refere à alimentação e à agricultura.

Outro dado é que as terras mais férteis são propriedade da instituição real e daqueles que giram ao seu redor. Para eles, a única função da terra é produzir lucros que possam ser depositados nos paraísos fiscais. Este é outro aspecto da corrupção que paralisa e reduz a economia do país.

A dominação colonial direta do Marrocos (1912-1955), que deu lugar ao saque da riqueza e impediu a industrialização do país, condenando-o ao atraso e à pobreza, continuou sob outras formas depois da independência formal. A partir dela, o país foi submetido à vontade das instituições financeiras internacionais e à dependência completa dos polos imperialistas, que continuaram roubando as riquezas através de diferentes mecanismos (desequilíbrio da balança comercial, remessa de lucros para o exterior, extração de capital através do endividamento externo).

Neste sentido, o imperialismo fez tudo o que pôde para acabar com as riquezas do país, impondo um programa segundo a lógica capitalista-imperialista, o que levou à quebra da economia, e aprofundou a dependência e o “seguidismo” do Marrocos aos centros do imperialismo e suas instituições. Essa dependência traz repercussões e consequências para todas as áreas sociais, aumentando a intensidade das crises, principalmente agora, frente à crise do capitalismo global.

Por outro lado, o Estado marroquino, para obter a benção dos imperialistas, especialmente do FMI e do Banco Mundial, deu mais estímulos para as grandes empresas, de capital nacional ou estrangeiro, através do que se conhece como “apoio ou estímulo para investimentos”, e a liberalização do Comércio exterior através da política de “melhorar as relações empresariais para promover a confiança, aumentando o atrativo do país para as inversões diretas e para o capital estrangeiro; melhorar a oferta de exportações e uma maior liberalização do comércio exterior; simplificar as tarifas e criar zonas francas para a exportação”, segundo suas próprias observações sobre a lei orçamentária para 2013. Cabe assinalar aqui que esta política é a mesma que se aplicou nos programas de ajuste estrutural, no início dos anos 80 do século passado.

Tudo isto se faz através de um ataque às conquistas da população e da classe operária, através de demissões, congelamento dos salários, aumento dos preços dos produtos básicos, ataque aos sistemas de pensões e aposentadorias. Atualmente, as taxas do desemprego são alarmantes. Entre os jovens de menos de 30 anos, o desemprego chega a 62%. Presenciamos também um aumento da pobreza e da miséria, e uma alta taxa de analfabetismo, principalmente entre as mulheres. Para confirmar esses dados desanimadores, basta consultar os informes de vários organismos internacionais, que classificam o Marrocos entre os primeiros no ranking dos indicadores de abandono social e humano.

Sem dúvida, o povo marroquino não tem outra alternativa para conseguir crescimento econômico e autossuficiência alimentar, além da libertação frente ao capital estrangeiro e nacional, através da ruptura com as instituições financeiras mundiais, e a construção de um programa ao calor das lutas dos trabalhadores e do povo, através de suas organizações independentes da burguesia, para sua emancipação da tirania política e econômica.

 

 

 

Tradução: Thais Moreira

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