sex mar 29, 2024
sexta-feira, março 29, 2024

“Quero voltar à Síria, tenho medo na Alemanha”


A xenofobia cresce na Europa.
A notícia impacta e, também indigna. Taher é um estudante sírio de 25 anos que saiu do seu país pela violenta guerra civil em curso. Obteve asilo na Alemanha e, em junho passado, se instalou na pequena cidade de Freital, de 40.000 habitantes (na Sajonia, próximo de Dresde, a leste do país).
 
Síria vive há quatro anos uma cruel guerra civil. O eixo central da mesma é a luta das “forças rebeldes” contra a ditadura de Bashar al-Assad. Como um componente especial, está a luta do povo kurdo de Rojava e, complicando ainda mais o panorama, partes do país são controladas pelo reacionário “califado” do Estado Islâmico que ataca a kurdos e “rebeldes”. É uma guerra civil na qual temos “lado”: apoiamos os “rebeldes” e os kurdos contra o regime de al-Assad e contra o Estado Islâmico.
 
Porém sabemos que este tipo de luta é muito cruel e dolorosa para quem não intervém diretamente nela e compreendemos que muitos fujam do país para escapar do seu horror. O governo alemão estipulou uma quantidade muito restrita para refugiados da Síria, Líbia, Palestina e outros países.
 
Outros migrantes, no entanto, não fogem de guerras, mas sim da fome e da miséria que o capitalismo imperialista provoca em seus países e buscam o “sonho europeu” viajando desde a África em barcaças frágeis e sobrecarregadas. Ou vêm desde o velho “leste europeu” que se desmorona desde a restauração do capitalismo. Todavia não são bem recebidos pelos governos que, no meio da crise econômica já não necessitam de nova “mão de obra barata”, os declaram “ilegais” e os perseguem de modo permanente.
 
A crise econômica, ao mesmo tempo, empurra setores da população europeia para a xenofobia e o racismo que se expressa de modo cada vez mais violento, encorajados por organizações de extrema direita. Na Alemanha, entre janeiro e junho deste ano, se contabilizou 202 ataques a residências de refugiados, a mesma cifra que em todo o ano anterior.
 
A pequena cidade de Freital tomou recentemente a dianteira neste tema, desde que se realizaram várias manifestações violentas contra a aceitação de 280 refugiados (em sua maioria, sírios e líbios) em um velho hotel da cidade, aos gritos de “estrangeiros criminosos” e “porcos”. Foram impulsionadas pela organização Frigida, centralizada desde a cidade de Dresde. Depois delas, Taher declarou a imprensa: “Quero voltar à Síria, tenho mais medo na Alemanha do que em meu país” (http://www.guatevision.com/quiero-volver-a-siria-tengo-miedo-en-alemania).
Para ser justos, devemos complementar que também há manifestações estimuladas por um coletivo contra a xenofobia que se enfrentou várias vezes com as manifestações chamadas por Frigida.
 
Um porta voz do ministério do Interior disse que “nos comprometemos energicamente para que estes acontecimentos [as manifestações xenófobas, NdR] não se reproduzam mais”. Contudo poucos confiam em uma ação enérgica das autoridades que “parecem desarmadas”.
Na realidade, não se pode esperar demasiado da ação de um governo que, na União Europeia, endurece cada vez mais a legislação contra os imigrantes “ilegais” e pouco ou nada tem feito contra estes ataques xenófobos nos últimos anos. Um governo que só aceita alguns refugiados como uma ação “politicamente correta” muito restrita para encobrir sua política de fundo. Como um dado adicional da situação europeia, cabe apontar que o Conselho de Londres está pra votar uma lei que declara “delito” alugar uma residência a imigrantes “ilegais”.
 
Em muitas ocasiões, afirmamos que o capitalismo imperialista em sua extrema decadência é cada vez mais cruel e desumano, que degrada e destrói todos os valores positivos do ser humano. Aqui apresentamos uma amostra mais. Ou seja, a eliminação do que deveria ser uma premissa básica da humanidade: a fraternidade e a disposição de ajudar aos mais fracos e necessitados transformando isso em seu oposto, em violência e repúdio.

 

Texto do cartaz: “Por favor, continuem fugindo, aqui não há nada para ficar. Os refugiados não são bem-vindos”.


Tradução Nea Vieira

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