sex abr 19, 2024
sexta-feira, abril 19, 2024

Governo de Hong Kong exige o fim da ocupação e ameaça com repressão

Os protestos em Hong Kong devem terminar até segunda-feira de manhã, ameaçou o chefe executivo.

O Chefe Executivo de Hong Kong, Leung Chun-ying, que se recusou a renunciar após exigência feita pela Federação dos Estudantes, fez um pronunciamento pela TV no sábado, 4/10, afirmando ser urgente a liberação de todas as entradas da sede do governo até segunda-feira, para que os funcionários pudessem trabalhar e que as ruas fossem desbloqueadas para que as escolas pudessem reabrir.

Ele disse também que se o conflito entre o movimento e grupos opositores continuasse seria "muito provável que a situação ficasse fora de controle" e exortou os cidadãos para manter a calma. Ele acrescentou que o movimento Occupy afetou seriamente a vida das pessoas, a receitas e os serviços públicos. Foi a ameaça mais clara do governo da cidade após as tentativas fracassadas de acabar com os protestos com o uso de repressão.
 
Porém, da mesma forma que a repressão policial causou um aumento da participação da população, dezenas de milhares de pessoas inundaram a área de Admiralty, no centro da cidade, horas depois de seu discurso, formando a maior concentração de manifestantes dos últimos dias. Uma manifestação na noite de sábado foi chamada para denunciar os ataques feitos na sexta-feira contra os manifestantes por cerca de 1000 pessoas contrárias ao movimento.
 
Máfia ataca o movimento

Os manifestantes foram atacados na sexta-feira à tarde, por homens que derrubaram seus acampamentos, agrediram cerca de 50 pessoas e assediaram sexualmente as mulheres. Os ataques ocorreram no bairro de Mong Kok, um conjunto de lojas, prédios de apartamentos e hotéis que é um dos lugares mais densamente povoadas do mundo.
 
A área de Mong Kok é notória pelas gangues organizadas, conhecidas como Tríades, que extorquem os pequenos comerciantes. Os manifestantes dizem que os atacantes estavam ligados a eles. De fato, a polícia confirmou que entre 19 pessoas presas, 8 tinham antecedentes como membros das Tríadas.

A Federação dos Estudantes de Hong Kong acusou o governo e a polícia de serem "coniventes" com os ataques. Seus dirigentes levantaram a questão da falta de policiais nos locais e seu pouco empenho em acabar com a violência.

De fato, o governo aproveitou o incidente para dizer que a violência era um bom motivo para acabar com a ocupação do centro da cidade. A polícia emitiu um comunicado pedindo “calma” e que a população deveria deixar as áreas de confronto “o mais rápido possível”. Na verdade, a ocupação estava sendo realizada na maior calma e, por “coincidência”, as áreas de confronto eram as próprias áreas da ocupação.

Isso parece dar razão aos manifestantes, que disseram que os atacantes eram gangues pró-governo e que sua ação era orquestrada com ele. Após os ataques, os dirigentes da Federação de Estudantes anunciaram o cancelamento do diálogo com o governo. Em email afirmaram: “Ontem, o governo afirmou que estava disposto a manter um diálogo com os estudantes. Hoje, ele quebrou sua promessa ao povo, e sem justificação reprimiu o movimento Occupy, tratando o povo como inimigo".
 
A frente única da contrarrevolução

Vários partidos e entidades começam a se pronunciar pedindo o fim da ocupação. O ex-deputado do partido Democrático, Law Chi-kwong, pediu que o povo não fosse ao centro e avisou que, se fossem, deveriam estar preparados para sofrer repressão. E exigiu que o governo agisse “não mais tarde que amanhã [domingo], ou mesmo antes”.

Os chefes de comitês universitários lançaram um apelo aos estudantes para deixar todas as áreas da ocupação e colocar a segurança em primeiro lugar.

Até agora, também, apesar da Confederação Sindical de Hong Kong ter afirmado que poderia chamar uma greve geral, nada foi concretizado. Aparentemente, o chamado foi feito para manter os trabalhadores na expectativa, mas sem nenhuma ação.

Os próximos dias podem ser decisivos. Se o governo cumprir com sua ameaça, pode ocorrer uma repressão em grande escala com resultados imprevisíveis. Por isso, é urgente que os trabalhadores entrem em cena de forma organizada, principalmente o sindicato dos professores, o maior da cidade e que tem ligações estreitas com os estudantes. É dessa forma que as ameaças de um governo, por hora bastante enfraquecido, podem virar choramingos. 

Confira nossos outros conteúdos

Artigos mais populares