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sexta-feira, março 29, 2024

Patrões mais ricos, trabalhadores mais pobres

O salário mínimo no México é de 70 pesos diários (cerca de 4 dólares). O salário é o preço da força de trabalho. Ou seja, é o equivalente em dinheiro do valor dos meios necessários para a vida do trabalhador e sua família. Mas, no México e na maior parte do mundo capitalista, isso não é cumprido.

Por: Grupo Socialista Obrero – México

O salário mínimo do México, há mais de 20 anos, não só não alcança para cobrir as necessidades básicas da vida da classe trabalhadora como também não é suficiente para garantir uma alimentação mínima por dia. Este é o “segredo” das fortunas colossais de grandes capitalistas mexicanos e estrangeiros. À custa da nossa fome, miséria crescente e pilhagem de nossas riquezas naturais, eles fazem seus impérios crescerem. Com esta nota, iniciamos uma campanha na qual propomos um programa de ação para defender a nossa classe da degradação.

Desde 1º de outubro, está vigente um salário mínimo único em todo o México. É de 70,10 pesos diários. Os trabalhadores dos estados “beneficiados” terão um aumento de 1,83 pesos diários! O equivalente a um salário mensal de 2.103 pesos (479 reais)!

Ao proclamar que com a unificação do salário mínimo “se está dando um passo histórico”, o secretário do Trabalho, Alfonso Navarrete Prida, faz chacota dos trabalhadores. “Passo histórico” rumo à miséria absoluta!

Navarrete e o governo Peña Nieto violam a Constituição, que estabelece que o salário mínimo deverá ser suficiente para satisfazer as necessidades de tipo material, social e cultural, assim como prover a educação obrigatória dos filhos, para um chefe de família. Hoje, o salário mínimo apenas alcança para cobrir um terço dos gastos com a alimentação diária de uma família. Está longe de cobrir outros gastos, como transporte público, higiene pessoal, saúde, cultura e lazer, moradia, roupas e calçados.

De acordo com a Aliança Nacional Agropecuária, Comerciantes e Consumidores AC, os produtos da cesta básica aumentaram de 50 a 180% nos últimos seis anos, enquanto o salário mínimo aumentou apenas 4,2%. Segundo um estudo do Senado publicado no final de 2014 pelo Instituto Belisario Domínguez, 55% da população (mais da metade!) não têm acesso a uma cesta básica recomendada. Mas nas grandes cidades a situação se torna ainda mais grave, já que um trabalhador tem que gastar entre 20 e 30% do salário mínimo unicamente com transporte.

Trabalhadores baratos, patrões felizes

É à custa da exploração de milhões de trabalhadores que aumenta a riqueza de uns poucos. É em base ao trabalho não pago, chamado “lucro” empresarial, que se acumula a famosa desigualdade, que agora “preocupa” tanto o Quinto Fórum da Organização para Crescimento e Desenvolvimento Econômico (OCDE), reunido em outubro em Guadalajara.

As 85 pessoas mais ricas do mundo possuem a mesma riqueza que a metade mais pobre da humanidade. O homem que disputa o primeiro lugar dessa lista é um mexicano, seu nome é Carlos Slim e sua fortuna equivale a 6% do PIB mexicano. Isso é mais do que o total recebido por 25 milhões de pessoas que pertencem aos 20% mais pobres da população, o que totaliza somente 4,9% do PIB.

Um exemplo entre milhões

Maria, de 32 anos, funcionária da limpeza do “chique” Centro Comercial de Santa Fe, ganha 3.600 pesos ao mês e caminha os três quilômetros que separam seu trabalho da sua casa para economizar os 5 pesos (1,20 real) da passagem do ônibus. Essa situação se agrava em estados como Chiapas, onde 70% dos trabalhadores ganham menos que dois salários mínimos. Apenas no Haiti, considerando toda a América Latina, a situação dos trabalhadores é pior do que no México.

Como produto dessa brutal exploração, o México é, depois do Brasil, o país com mais multimilionários da região. O magnata Slim está à frente de 2.540 multimilionários mexicanos, cujos capitais líquidos individuais são de 30 milhões de dólares. Ou seja, uma população que caberia em apenas dois trens do metrô possui 43% de toda a riqueza individual do país. Enquanto isso, 61 milhões de mexicanos, o equivalente a toda a população da Itália, não recebe um salário que sequer garanta uma sobrevivência digna.

Quem são os culpados

Primeiros responsáveis: o governo de Enrique Peña Nieto (EPN) e todos os que o antecederam. Mas também os que governaram e governam estados e cidades. Todos: PRI, PAN, PRD, PT, PVEM… Todos são culpados porque servem aos grandes capitalistas e não ao povo pobre que falsamente dizem representar.

Vejamos o que o presidente do Banco do México, Agustín Carstens, respondeu diante da pergunta sobre a necessidade de aumentar o salário mínimo: “um aumento de maneira arbitrária poderia trazer três consequências para as empresas: a primeira, que vejam a necessidade de transferir esse aumento de custos aos preços; segunda, que optem por demitir o trabalhador; terceira, que o empresário ‘fuja’ do salário mínimo, aumentando a informalidade”. Para eles, não importa a justiça nem a vida dos trabalhadores, somente as “consequências” para o lucro dos empresários e banqueiros. E sabemos que “seus lucros” são gerados pagando o menor salário possível e explorando o trabalhador ao máximo.

Mas existem outros responsáveis fundamentais: os malditos pelegos (burocratas) sindicais, traidores de outro tipo. Esses privilegiados mafiosos que se eternizam nos seus cargos das organizações dos trabalhadores para servir aos capitalistas e seus governos. Esse é o câncer que nossa classe trabalhadora sofre em suas entranhas. Eles são o principal instrumento para manter a miséria e a desigualdade.

O que propomos fazer

Apesar dessa enorme trava, a resistência dos trabalhadores dá mostras exemplares de heroísmo e abre o caminho para vitórias. Por isso, é urgente propor uma exigência fundamental: elevar, em todo o território mexicano, o salário mínimo ao valor do custo básico de bens e serviços, e que seja ajustado trimestralmente de acordo com o índice do custo de vida. E, até que não conquistemos isso, repetimos as palavras da Nova Central de Trabalhadores, encabeçada pelo SME (Sindicato Mexicano de Eletricistas), que declarou: “o salário mínimo digno deve ser de 210 pesos diários, ou seja, 6.300 mensais”.

Para ampliar essa reivindicação e fazê-la chegar ao governo de EPN, é necessário pressionar as direções de todos os sindicatos e chamar assembleias e plenárias para explicar que é preciso terminar com este roubo e recuperar o salário real.

Artigo publicado em La Resistencia nº11, novembro de 2015.

Tradução: Helena Náhuatl

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