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terça-feira, março 19, 2024

Grécia à beira do colapso: O fantasma da recessão mundial assombra

A crise econômica global do sistema capitalista está se acentuando. Depois de um relativo e fictício lapso de “recuperação” da economia mundial (resultado dos mais de 25 trilhões de dólares que os principais governos imperialistas entregaram em 2007-2008 aos grandes bancos e empresas para evitar a quebra destes), agora a crise se expressa no impressionante crescimento das dívidas públicas da Europa, produto daquela primeira ação de salvamento.

Este fenômeno afeta, em princípio e com mais contundência, os elos mais frágeis da União Europeia (UE), a saber, Grécia, Irlanda e Portugal; mas ameaça estender-se para países mais fortes como Espanha e até Itália.

O FMI admite a possibilidade de recessão

As previsões se tornam pessimistas, o cenário se cobre de nuvens e o castelo de cartas da aparente “recuperação” de 2009-2010 começa a desmoronar. Em um documento recente, o FMI admitiu uma desaceleração nas expectativas de crescimento de vários países centrais. Este organismo prevê um crescimento global de somente 4% este ano e 4,2% em 2012, frente a 4,3% e 4,5%, respectivamente, previsto em seus cálculos preliminares de agosto. Por exemplo, na zona do euro, o FMI reduz sua estimativa de crescimento a 1,7% em 2011 e a 1,3% em 2012, frente a 1,9% e 1,4% anteriores. Para os chamados “países emergentes”, os chamados BRICs, as revisões também foram feitas e marcam um crescimento de 6,5% este ano e 6,2% no próximo ano contra 6,6% e 6,4% previsto em junho.

Para Estados Unidos, se prevê um crescimento de 1,6% este ano e 2% o ano que vem. Quanto a Espanha, a estimativa de agosto fixava em 0,7% o crescimento para 2011 e em 1,3% no próximo ano. Além disso, o FMI rebaixou as previsões de crescimento da França e da Itália.

Ainda que as economias dos países centrais e “emergentes” ainda cresçam, a dinâmica é claramente negativa. A economia mundial começa a desinflar e as probabilidades de chegar a uma recessão são cada vez maiores. Tanto é assim que a própria diretora do FMI, a francesa Christine Lagarde, advertiu recentemente de que o mundo está a ponto de cair em uma nova recessão econômica, pois “as opções dos governos e dos bancos centrais são menores que em 2009, porque já gastaram grande parte de sua munição”. E tem razão, porque será difícil conseguir mais “pólvora” para continuar “resgatando” não só empresas, mas também países inteiros como ocorreu em 2008 (só para resgatar o sistema financeiro europeu, o FMI assegura que é necessário de 200 bilhões de euros). Então, como saída urgente, Lagarde propõe que os europeus devem “ajustar seus programas de austeridade a uma situação que mudou”, no marco de “considerar medidas para impulsionar o crescimento”, leia-se, recuperar a taxa de lucro das grandes empresas e dos bancos imperialistas atacando com tudo a classe trabalhadora europeia e os povos do mundo.

O aperto imperialista na Grécia….

Os “ajustes” que propõe a Troika(FMI, Comissão Europeia e Banco Central Europeu) não são outros do que os duros ataques aos direitos conquistados e ao nível de vida da classe trabalhadora europeia. A política do imperialismo é, como sabemos, que os trabalhadores paguem os custos da crise que os capitalistas geraram.

No caso da Grécia, país à beira da quebra e sobre o qual se discute se deve ou não permanecer dentro da zona do euro, a situação política é marcada, por um lado, pela “guerra social” do imperialismo e, por outro, pela resistência dos operários, do povo e da juventude.

O programa de ajuste que o parlamento grego aprovou em junho prevê um aumento da pressão fiscal sobre o povo, privatizações, demissões em massa no setor público e redução do investimento em questões sociais. No que diz respeito à questão tributária, se prevê ainda um aumento brutal dos impostos pagos pela população (sobretudo o IVA) que subirão neste ano a uns 2,3 bilhões e, em 2012, isto aumentará a 3,380 bilhões. Quanto às privatizações, o Estado prevê angariar 50 bilhões de euros até 2015 pela venda de empresas públicas, entre elas os correios, água, telefônicas e setores portuários. Além disso, se prevê reduzir em mais de 5 bilhões os direitos sociais, e aumentar as contribuições à seguridade social . Ao todo, com este pacote, o governo grego se comprometeu a recolher algo mais de 78 bilhões até 2015, sempre falando em euros.

Neste marco, frente à aguda situação da Grécia e o agravamento da crise, Christine Lagarde disse de forma contundente: "Necessita-se de uma ação coletiva, drástica e já". A alta funcionária imperialista enfatizou que "O realmente importante é chamar atenção dos Governos porque se precisa de uma ação coletiva, drástica e já". E continuou insistindo: "Aplicar medidas é a única maneira de convencer mercados e sócios".

Diante do chamado do FMI, as inclinações servis e as respostas submissas não tardaram. O primeiro-ministro grego, Yorgos Papandreu, declarou "Chegaremos até o fim com os ajustes". Em uma reunião de empresários, assegurou que “Grécia cumprirá com sua palavra e estamos decididos a aplicar as decisões de 21 de julho. E chegaremos até o final".

O governo grego deseja, desta forma, dar um sinal claro de submissão à Alemanha, França e as demais potências imperialistas, de que cumprirá com os compromissos assumidos. Em troca, a Eurozona oferece à Grécia um novo resgate de 160 bilhões de euros, depois dos 110 bilhões do primeiro pacote de ajuda de maio de 2010.

Este mecanismo de “emprestar” dinheiro à Grécia é só para garantir que esse país continue pagando a dívida aos bancos internacionais, especialmente a Alemanha e França, mas com juros mais altos. É sabido que a dívida da Grécia, que equivale a um PBI e meio do país, é impagável. No entanto, o default (suspensão de pagamento) causaria um efeito dominó que prejudicaria os bancos europeus e norte-americanos, além de aumentar a desconfiança e colocar em xeque o próprio euro.

O certo é que esse país do Mediterrâneo, com estas medidas, está sendo colonizado pelas potências centrais da Europa.

…E em Portugal
 
Na mesma direção, o FMI pressiona Portugal a aplicar planos e medidas de austeridade no ano que vem por 1 bilhão de euros. Da mesma forma que o homólogo grego, o governo de Pedro Passos Coelho põe todo seu empenho para demonstrar que Portugal será um bom aluno da troika internacional e que não é a Grécia. Disse o mandatário português: "Estamos preparados para tomar as medidas adicionais que sejam necessárias para cumprir os objetivos do programa econômico, e manteremos uma política de diálogo com o FMI, a Comissão Europeia e o BCE". Isto ocorre no marco de uma segunda entrega do pacote de ajuda a Portugal de 3,9 bilhões por parte do FMI, que elogia eloqüentemente a fidelidade de Passos Coelho. Com este novo desembolso, Portugal recebeu até agora uns 10,430 bilhões de um empréstimo total prometido de 78 bilhões em três anos.

As ruas fervem em Atenas

A classe operária europeia, em especial a grega, corre o risco concreto de que seu nível de vida e suas condições de trabalho desçam a patamares de um país semicolonial. O desemprego oficial passou de 11,7% ao histórico 16,6% no último ano. Isto significa que 30,5% dos jovens e 35,8% de mulheres estão na rua.

Desde 2010, a classe trabalhadora vem enfrentando os planos entreguistas de Papendreu nas ruas, com manifestações e várias greves gerais. Nos últimos dias, novamente houve choques entre a juventude trabalhadora e a polícia nas ruas de Atenas. A repressão deixou um saldo de mais de 700 pessoas feridas, apresentando contusões e ferimentos (181 de urgência), além de 43 detidos.

E é assim. A resolução da crise depende de uma batalha campal entre as classes. Tudo indica que estamos diante de uma dinâmica geral descendente, isto é, que teremos uns 10 a 15 anos de crise, com possíveis “recuperações” parciais e novas quedas bruscas. A luta de classes dará a palavra final nesta polarização entre a ofensiva capitalista que vem se intensificando e o processo de resistência dos trabalhadores europeus.


Tradução: Suely Corvacho

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